terça-feira, 17 de janeiro de 2012

A afabilidade e a doçura - BIBLIOGRAFIA

O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo 9, item 6;



6. A benevolência para com os seus semelhantes, fruto do amor ao próximo, produz a afabilidade e a doçura, que lhe são as formas de manifestar-se. Entretanto, nem sempre há que fiar nas aparências. A educação e a frequentação do mundo podem dar ao homem o verniz dessas qualidades. Quantos há cuja fingida bonomia não passa de máscara para o exterior, de uma roupagem cujo talhe primoroso dissimula as deformidades interiores! O mundo está cheio dessas criaturas que têm nos lábios o sorriso e no coração o veneno; que são brandas, desde que nada as agaste, mas que mordem à menor contrariedade; cuja língua, de ouro quando falam pela frente, se muda em dardo peçonhento, quando estão por detrás. A essa classe também pertencem esses homens, de exterior benigno, que, tiranos domésticos, fazem que suas famílias e seus subordinados lhes sofram o peso do orgulho e do despotismo, como a quererem desforrar-se do constrangimento que, fora de casa, se impõem a si mesmos. Não se atrevendo a usar de autoridade para com os estranhos, que os chamariam à ordem, acham que pelo menos devem fazer-se temidos daqueles que lhes não podem resistir. Envaidecem-se de poderem dizer: "Aqui mando e sou obedecido", sem lhes ocorrer que poderiam acrescentar: "E sou detestado." Não basta que dos lábios manem leite e mel. Se o coração de modo algum lhes está associado, só há hipocrisia. Aquele cuja afabilidade e doçura não são fingidas nunca se desmente: é o mesmo, tanto em sociedade, como na intimidade. Esse, ao demais, sabe que se, pelas aparências, se consegue enganar os homens, a Deus ninguém engana. - Lázaro. (Paris,1861.)



O Livro dos Espíritos, questão 886;



886. Qual o verdadeiro sentido da palavra caridade, como a entendia Jesus?

“Benevolência para com todos, indulgência para as imperfeições dos outros, perdão das ofensas.”

O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça. pois amar o próximo é fazer-lhe todo o bem que nos seja possível e que desejáramos nos fosse feito. Tal o sentido destas palavras de Jesus: Amai-vos uns aos outros como irmãos. A caridade, segundo Jesus, não se restringe à esmola, abrange todas as relações em que nos achamos com os nossos semelhantes, sejam eles nossos inferiores, nossos iguais, ou nossos superiores. Ela nos prescreve a indulgência, porque da indulgência precisamos nós mesmos, e nos proíbe que humilhemos os desafortunados, contrariamente ao que se costuma fazer. Apresente-se uma pessoa rica e todas as atenções e deferências lhe são dispensadas. Se for pobre, toda gente como que entende que não precisa preocupar-se com ela. No entanto, quanto mais lastimosa seja a sua posição, tanto maior cuidado devemos pôr em lhe não aumentarmos o infortúnio pela humilhação. O homem verdadeiramente bom procura elevar, aos seus próprios olhos, aquele que lhe é inferior, diminuindo a distância que os separa.



Abrigo, capítulo 10;



NO CULTO DA GENTILEZA


Emmanuel

Lembra-te que Deus atende aos homens por intermédio das próprias criaturas e faze da gentileza uma prece constante, através da qual a Celeste Bondade se manifeste.

Muitos recorrem à Providência Divina, entre a revolta e o pessimismo, olvidando a necessidade de compreensão para que o bem se exprima em dons de reconforto, ao redor dos próprios passos, esparzindo a esperança, a fim de que o coração se mantenha preparado, à frente das bênçãos que se propõe a recolher.

Ninguém na Terra é tão bom que possa proclamar-se plenamente liberto do mal e ninguém é tão mau que não possa fazer algum bem nas dificuldades do caminho...

Nos maiores delinqüentes há sempre um filho de Deus, transviado ou adormecido, aguardando o toque do amor de alguém, para tornar à trilha certa.

Sê compassivo e atrairás a bondade!

Sê amigo do próximo e a amizade do próximo virá ao teu encontro.

O carinho fraterno é uma fonte de bênçãos a deslizar no chão duro da rotina ou da indiferença, dessedentando as almas sequiosas que passam.

Realmente, é sempre uma afirmação de fé a nossa rogativa verbal ao Todo Misericordioso e a prece sentida é energizante em nosso próprio espírito, erguendo-nos para os cimos da existência.

O Senhor, no entanto, espera igualmente que nos façamos bons de uns para com os outros, assim como exigimos seja Ele para nós o benfeitor infatigável e incessante.

Não te esqueças de que o Mestre nos espera ao lado das próprias criaturas que caminham conosco, a fim de auxiliar-nos.

Sejamos, devotos da cortesia e da afabilidade, em todos os instantes, para que não aconteça venhamos a dizer, depois da oportunidade perdida: –

– “Efetivamente, o Senhor estava junto de mim, mas, não pude senti-lo”.

Porque, em verdade, pelos fios invisíveis do amor, o Divino Mestre permanece constantemente entrosado à nossa própria vida.

(“Abrigo”, de Francisco Cândido Xavier, pelo Espírito Emmanuel)



Alvorada Cristã, capítulo 15;



O PODER DA GENTILEZA

Eminente professor negro, interessado em fundar uma escola num bairro pobre, onde centenas de crianças desamparadas cresciam sem o benefício das letras, foi recebido pelo prefeito da cidade que lhe disse imperativamente, depois de ouvir-lhe o plano:

- A lei e a bondade nem sempre podem estar juntas. Organize uma casa e autorizaremos a providência.

- Mas doutor, não dispomos de recursos... – considerou o benfeitor dos meninos desprotegidos.

- Que fazer?

- De qualquer modo, cabe-nos amparar os pequenos analfabetos.

O prefeito reparou-lhe demoradamente a figura humilde, fez um riso escarninho e acrescentou:

- O senhor não pode intervir na administração.

O professor muito triste, retirou-se e passou a tarde e a noite daquele sábado, pensando, pensando...

Domingo, muito cedo saiu a passear, sob as grandes árvores, na direção de antigo mercado.

Ia comentando, na oração silenciosa:

- Meu Deus como agir? Não receberemos um pouso para as criancinhas, Senhor?

Absorvido na meditação, atingiu o mercado e entrou.

O movimento era enorme.

Muitas compras. Muita gente.

Certa senhora, de apresentação distinta, aproximou-se dele e tomando-o por servidor vulgar, de mãos desocupadas e cabeça vazia, exclamou:

- Meu velho, venha cá.

O professor acompanhou-a sem vacilar.

À frente dum saco enorme, em que se amontoavam mais de trinta quilos de verdura, a matrona recomendou:

- Traga-me esta encomenda.

Colocou ele o fardo às costas e seguiu-a.

Caminharam seguramente uns quinhentos metros e penetraram elegante vivenda, onde a senhora voltou a solicitar:

- Tenho visitas hoje. Poderá ajudar-me no serviço geral?

- Perfeitamente – respondeu o interpelado -, dê suas ordens.

Ela indicou pequeno pátio e determinou-lhe a preparação de meio metro de lenha para o fogão.

Empunhando o machado, o educador, com esforço, rachou algumas toras. Findo o serviço, foi chamado para retificar a chaminé. Consertou-a com sacrifício da própria roupa. Sujo de pó escuro, da cabeça aos pés, recebeu ordens de buscar um peru assado, a distância de dois quilômetros. Pôs-se a caminho, trazendo o grande prato em pouco tempo. Logo mais, atirou-se à limpeza de extenso recinto em que se efetuaria lauto almoço.

Nas primeiras horas da tarde, sete pessoas davam entrada no fidalgo domicílio. Entre elas, relacionava-se o prefeito que anotou a presença do visitante da véspera, apresentando ao seu gabinete por autoridades respeitáveis. Reservadamente, indagou sua irmã, que era a dona da casa, quanto ao novo conhecimento, conversando ambos na surdina.

Ao fim do dia, a matrona distinta e autoritária, com visível desapontamento, veio ao servo improvisado e pediu o preço dos trabalhos.

- Não pense nisto – respondeu com sinceridade -, tive muito prazer em ser-lhe útil.

No dia imediato, contudo, a dama da véspera procurou-o, na sua casa modesta em que se hospedava e, depois de rogar-lhe desculpas, anunciou-lhe a concessão de amplo edifício, destinado à escola que pretendia estabelecer. As crianças usariam o patrimônio à vontade e o prefeito autorizaria a providência com satisfação.

Deixando transparecer nos olhos úmidos a alegria e o reconhecimento que lhe reinavam n’alma, o professor agradeceu e beijou-lhe as mãos, respeitoso.

A bondade dele vencera os impedimentos legais.

O exemplo é mais vigoroso que a argumentação.

A gentileza está revestida, em toda parte, de glorioso poder.

(“Alvorada Cristã” de F C Xavier e Neio Lúcio)



Busca e Acharás, capítulo30;



CONQUISTANDO SIMPATIA

André Luiz

Aprenda a sorrir para estender a fraternidade.

Eleve o seu vocabulário para o intercâmbio com os outros.

Carregue as suas frases com baterias de compreensão e otimismo.

Eduque a voz para que ela seja a moldura digna de sua imagem.

Converse motivando as pessoas para o bem a fazer.

Não corte o assunto com anotações diferentes daquilo que interessa ao seu interlocutor.

Quem aprende a ouvir com respeito fala sempre melhor.

Diante de problemas a solucionar, esclareça com serenidade sem destacar a perturbação.

Quanto possível, procure calar suas mágoas, reservando-as para os seus colóquios com Deus.

Recordemos: todos necessitamos uns dos outros e a palavra simples e espontânea é a chave da simpatia.

("Buscas e Acharás" de F C Xavier, Emmanuel e Andrá Luiz)



Calma, capítulos 19 e 24;



AZEDUME E IRRITAÇÃO

Emmanuel

Alguém terá dito que trazes alguma doença oculta, impedindo-te sorrir, mas não acredites que essa ou aquela indisposição orgânica te possa furtar a serenidade.

Possivelmente alguma ocorrência desagradável te agitou as forças mais íntimas e estás a ponto de cair na vasta cadeia de reações negativas.

Certa pessoa contrariou-te, talvez, os projetos e desígnios.

Algum prejuízo alcançou-te, de inesperado.

Recorda: momentos de crises te examinam a capacidade de resistência.

Determinados contratempos são bênçãos antecipadas, cuja significação virás a compreender.

Existem perdas que te induzem à mudança de orientação para grandes lucros.

Algumas vezes, certas relações desaparecem para que outras se te destaquem no caminho, valorizando-te a existência.

Haja o que houver, não tranques a face e deixa que o teu sorriso te ajude, ajudando aos outros.

Azedume e irritação, na essência, são duas sombras que te afastam do que há de melhor.

(“Calma”, de F C Xavier e Emmanuel)



MAU HUMOR

Emmanuel

Se o mau humor te envolve à maneira de sombra sufocante, procura examinar-lhe as origens, a fim de que possas liquidá-lo tão imediatamente quanto possível.

Caso alguma dívida te preocupe, não será com aspereza que conseguirás os recursos preciosos, de modo a resgatá-la.

Doença quando aparece, solicita remédio e não intolerância para curar-se.

Necessitando da cooperação de alguém para determinado empreendimento, a carranca não te angariará simpatia.

Contratempos em família não se desfazem com frases vinagrosas.

Se pretendes adquirir companheiros e colaboradores, a irritação é um antigo processo de perder amizades.

Lembra-te de que ninguém consegue algo realizar sem os outros e de que os outros não são culpados por nossas indisposições e insucessos.

Ninguém sabe até hoje onde termina o mau humor e começa a enfermidade.

Não se sabe de ninguém até agora que o azedume tenha auxiliado.

Se você deseja livrar-se dessa máscara destruidora, cultiva a paciência e aprende a sorrir.

(“Calma”, de F C Xavier e Emmanuel)



Caridade, capítulo 15;



BRANDURA

André Luiz

Insignificante é o pingo d’água, todavia, com o tempo, traça um caminho no corpo duro da pedra.

Humilde é a semente, entretanto, germina com firmeza e produz a espiga que enriquece o celeiro.

Frágil é a flor, contudo, resiste à ventania, garantindo a colheita farta.

Minúscula é a formiga, mas edifica, à força de perseverança, complicadas cidades subterrâneas.

Submissa é a argila, no entanto, com o auxilio do oleiro, transforma-se em vaso precioso.

Branda é a veste física, que um simples alfinete atravessa, todavia suporta vicissitudes incontáveis e sustenta o templo do Espírito em aprendizado, por dezenas de lustros, repletos de necessidades e padecimentos morais.

O verdadeiro progresso prescinde da violência.

Tudo é serenidade e seqüência na evolução.

Aprendamos com a Natureza e adotemos a brandura por diretriz de nossas realizações para a vida mais alta, mas não a brandura que se acomoda com a inércia, com a perturbação e com o mal e sim aquela que se baseia na paciência construtiva, que trabalha incessantemente e persiste no melhor a fazer, ultrapassando os obstáculos que a ignorância lhe atira à estrada e superando os percalços da luta, a sustentar-se no serviço que não esmorece e na esperança fiel que confia, sem desanimo, na vitória final do bem.

(“Caridade” de F C Xavier e Espíritos Diversos)



Ceifa de Luz, capítulo 47;



AUTO-PROTEÇÃO

 “Pois com o critério que julgardes sereis julgados; e com a medida com que tiverdes medido vos medirão também” – JESUS. (Mateus, 7:2.)

A gentileza deve ser examinada, não apenas por chave de ajuste nas relações humanas, mas igualmente em sua função protetora para aqueles que a cultivam.

Não falamos aqui do sorriso de indiferença que paira, indefinido, na face, quando o sentimento está longe de colori-lo.

Reportamo-nos à compreensão e, conseqüentemente, à tolerância e ao respeito com que somos todos chamados à garantia da paz recíproca.

De quando em quando, destaquemos uma faixa de tempo para considerar quantas afeições e oportunidades preciosas temos perdido, unicamente por desatenção pequenina ou pela impaciência de um simples gesto.

Quantas horas gastas com arrependimento tardios e quantas agressões vibratórias adquiridas à custa de nossas próprias observações, censuras, perguntas e respostas malconduzidas!. . .

O que fizermos a outrem, fará outrem a nós e por nós.

Reflitamos nos temas da auto-proteção.

A fim de nutrir-nos ou aquecer-nos, outros não se alimentam e nem se agasalham em nosso lugar e, por mais nos ame, não consegue alguém substituir-nos na medicação de que estejamos necessitados.

Nas questões da alma, igualmente, os reflexos da bondade e as respostas da simpatia hão de ser plantados por nós, se aspiramos à paz em nós.

(“Ceifa de Luz” de F C Xavier e Emmanuel)



Escrínio de Luz, capítulos 14 e 15;



AFABILIDADE E DOÇURA

No exercício da afabilidade e da doçura, que atrairá em teu favor as correntes da simpatia, compadece-te de todos e guarda, acima de tudo, a boa vontade e a sinceridade no coração.

Não será porque sorrias a todo instante que conseguirás o milagre da fraternidade. A incompreensão sorri no sarcasmo e a maldade sorri na vingança.

Não será porque espalhes teus ósculos com os outros que edificarás o teu santuário de carinho. Judas, enganado pelas próprias paixões, entregou o Mestre com um beijo.

Por outro lado, não é porque apregoas a verdade, com rigor, que te farás abençoado na vida; a irreflexão no serviço assistencial agrava as doenças e multiplica os desastres.

Com a franqueza agressiva, embora tocada de boas intenções, não serás portador do auxílio que desejas, conseguindo gerar tão somente o desespero e a indisciplina.

Não será com o elogio público ou com a acusação aberta que ajudarás ao companheiro; quase sempre, o louvor humano é uma pedra no caminho e a queixa, habitualmente, é uma crueldade. Sorrisos e palavras podem estar simplesmente na máscara.

Na alegria ou na dor, no verbo ou no silêncio, no estímulo ou no aviso, acende a luz do amor no coração e age com bondade. Cultivemos a brandura sem afetação; e a sinceridade, sem espinhos.

Somente o amor sabe ser doce e afável, para compreender e ajudar, usando situações e problemas, circunstâncias e experiências da vida, para elevar nosso espírito eterno ao templo da luz divina.

(“Escrínio de Luz” de F C Xavier e Emmanuel)



AFABILIDADE


Auxilia o pântano e receberás a terra fecunda.

Purifica a fonte poluída e recolherás a água potável.

Seleciona o barro escuro e encontrarás a argila preciosa ao teu vaso.

Ajuda a sementeira frágil e terás a colheita feliz de amanhã.

Lavra a pedra e terás valiosas utilidades.

Aperfeiçoa a madeira bruta e exibirás preciosas peças de beleza e enriquecimento.

Não desprezes o cascalho contundente e nele identificarás a existência do ouro.

Assim também não fujas à dor, porque a dor bem aproveitada é instrumento divino, através do qual verte para nós outros a corrente dos recursos celestiais.

Se desejas realização e vitória, dons e talentos no campo da própria vida, não te esqueças da necessidade de simpatia.

Ajuda a todos, busca entender tudo e tudo respeitar, e com o tempo, perceberás que todos virão ao teu encontro, estendendo-te amparo e compreensão para que subas livremente à grandeza da Vida Maior.

(“Escrínio de Luz” de F C Xavier e Emmanuel)



Jesus no Lar, capítulo 17;



A EXALTAÇÃO DA CORTESIA

À frente da multidão de sofredores e desalentados, relacionou o Mestre as bem-aventuranças, destacando, com ênfase, a declaração de que os mansos herdariam a Terra.

A afirmativa, porém, soou entre os discípulos de maneira menos agradável.

Tal asserção não seria encorajamento à ociosidade mental? Se o Evangelho reclamava espíritos valorosos na sementeira das verdades renovadoras, como acomodar a promessa com a necessidade do destemor? Se o mal era atrevido e contundente, em todos os climas e posições, como estabelecer o triunfo inadiável do bem através da incapacidade de reagir, embora pacificamente? Nessas interrogações imprecisas, reuniu-se a assembléia familiar no domicílio de Pedro.

Iniciados os comentários edificantes da noite, entreolhavam-se os discípulos entre a indagação e a curiosidade.

O Divino Amigo parecia perceber os motivos da expectação, em torno, mas esperava, sereno, que os seguidores se pronunciassem.

Foi então que Judas, rompendo o véu de respeito que aureolava a presença do Mestre, inquiriu, loquaz: — Senhor, por que atribuíste aos mansos a posse final da Terra? Os corações acovardados gozarão de semelhante bênção? Os incapazes de testemunhar a fé, nos momentos graves de luta e sacrifício, serão igualmente bem-aventurados? Jesus não respondeu, de imediato.

Vagueou o olhar, através dos circunstantes, como a pedir-lhes a exposição de quaisquer dúvidas que lhes povoassem a alma.

Pedro cobrou ânimo e perguntou: — Sim, Mestre: se um malfeitor visitar-me a casa, não devo recordar-lhe os imperativos do acatamento recíproco? Entregar-me-ei sem qualquer admoestação fraternal aos seus delituosos caprichos, a pretexto de guardar a mansidão a que te referiste? O Cristo sorriu, como tantas vezes, e enunciou, calmo: — Enganaram-se todos, naturalmente.

Eu não fiz o elogio da preguiça, que se mascara de humildade, nem da covardia que se veste de cordura para melhor acomodar-se às conveniências humanas.

As criaturas que se afeiçoam a semelhantes artifícios sofrerão duramente os instrumentos espirituais de que o mundo se utiliza para reajustar os caracteres tortuosos e indecisos.

Exaltei, na realidade, a cortesia de que somos credores uns dos outros.

Bem-aventurados os homens de trato ameno que sabem usar a energia construtiva entre o gesto de bondade e o verbo da compreensão! Bem-aventurados os filhos do equilíbrio e da gentileza que aprendem a negar o mal, sem ferir o irmão ignorante que os solicita sem saber o que pede! Abençoados os que repetem mil vezes a mesma lição, sem alarde, para que o próximo lhes aproveite a influenciação na felicidade justa de todos!

Bem-aventurados aqueles que sabem tratar o rico e o pobre, o sábio e o inculto, o bom e o mau, com espírito de serviço e entendimento, dando a cada um, de conformidade com os seus méritos e necessidades e deixando os sinais de melhoria, de elevação, bem-estar e contentamento por onde cruzam! Em verdade vos digo que a eles pertencerá o domínio espiritual da Terra, porque todo aquele que acolhe os semelhantes, dentro das normas do amor e do respeito, é senhor dos corações que se aperfeiçoam no mundo! Alívio e alegria transbordaram do ânimo geral e, de olhos fitos, agora, nas águas imensas do grande lago, o Senhor pediu a Mateus encerrasse o fraterno entendimento da noite, pronunciando uma prece.

(“Jesus no Lar”, de F C Xavier e Neio Lúcio)



Opinião Espírita, capítulo 28;



BENEVOLÊNCIA

E - Cap. XV - Item 7

Traduzindo benevolência por fator de equilíbrio, nas relações humanas, vale confrontar as atitudes infelizes como os obstáculos pesados que afligem o espírito, na caminhada terrestre.

Aprendamos a sinonímia de ordem moral, no dicionário simples da natureza:

Crítica destrutiva - labareda.

Azedume - estrada barrenta.

Irritação - atoleiro comprido.

Indiferença - garoa gelada.

Cólera - desastre à vista.

Calúnia - estocada mortal.

Sarcasmo - pedrada a esmo.

Injúria - espinho infecto.

Queixa repetida - tiririca renitente.

Conversa desnecessária - vento inútil.

Preconceito - fruto bichado.

Gabolice - poeira grossa.

Lisonja - veneno doce.

Engrossamento - armadilha pronta.

Aspereza - casca espinhosa.

Pornografia - pântano aberto.

Despeito - serpente oculta.

Melindre - verme dourado.

Inveja - larva em penca.

Pessimismo - chuva de fel.

Espiritualmente, somos filtros do que somos.

Cada pessoa recebe aquilo que distribui.

Se esperamos pela indulgência alheia, consignemos as manifestações que nos pareçam indesejáveis e, evitando-as com segurança, saberemos cultivar a benevolência, no trato com o próximo, para que a benevolência nos seja auxílio incessante, através dos outros.

(“Opinião Espírita”, de Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira, pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz)



Pão Nosso, capítulo 43;



Boas maneiras


 “E assenta-te no último lugar.”  – Jesus. (Lucas, 14:10)

O Mestre, nesta passagem, proporciona inolvidável ensinamento de boas maneiras.

Certo, a sentença revela conteúdo altamente simbólico, relativamente ao banquete paternal da Bondade Divina; todavia, convém deslocarmos o conceito a fim de aplicá-lo igualmente ao mecanismo da vida comum.

A recomendação do Salvador presta-se a todas as situações em que nos vejamos convocados a examinar algo de novo, junto aos semelhantes. Alguém que penetre uma casa ou participe de uma reunião pela primeira vez, timbrando demonstrar que tudo sabe ou que é superior ao ambiente em que se encontra, torna-se intolerável aos circunstantes.

Ainda que se trate de agrupamento enganado em suas finalidades ou intenções, não é razoável que o homem esclarecido, aí ingressando pela vez primeira, se faça doutrinador austero e exigente, porquanto, para a tarefa de retificar ou reconduzir almas, é indispensável que o trabalhador fiel ao bem inicie o esforço, indo ao encontro dos corações pelos laços da fraternidade legítima. Somente assim conseguirá alijar a imperfeição eficazmente, eliminando uma parcela de sombra, cada dia, através do serviço constante.

Sabemos que Jesus foi o grande reformador do mundo, entretanto, corrigindo e amando, asseverava que viera ao caminho dos homens para cumpri a Lei.

Não assaltes os lugares de evidência por onde passares. E, quando te detiveres com os nossos irmãos em alguma parte, não os ofusques com a exposição do quanto já tenhas conquistado nos domínios do amor e da sabedoria. Se te encontras decidido a cooperar pelo bem dos outros, apaga-te, de algum modo, a fim de que o próximo te possa compreender. Impondo normas ou exibindo poder, nada conseguirás senão estabelecer mais fortes perturbações.

(“Pão Nosso” de F C Xavier e Emmanuel)


Paz, capítulo 13;



BENEVOLÊNCIA EM AÇÃO

Usa a benevolência tanto quanto puderes, recordando que todos somos necessitados de tolerância.

Ainda mesmo em se tratando de nós outros, os companheiros desencarnados, estamos ainda em áspera luta, por dentro de nós mesmos, buscando a luz do auto-aperfeiçoamento.

Muito longe da condição angélica, todos nos amontoamos no pátio das necessidades espirituais, contando com o amparo e a compreensão uns dos outros, a fim de conseguirmos atingir a solução de nossos problemas.

Por isto mesmo, conscientes de nossas próprias realidades, quando estivermos com a palavra em casa, na rua, nos diálogos de serviço ou nos cenáculos da fé, aprendamos a esquecer o mal semeando o bem, para que o bem se fixe em nós.

Não te reportes a conflitos, a fim de que a paz se estabeleça.

Não condenes os irmãos que suponhas caídos na estrada, porque não sabes se amanhã estarás nas dificuldades em que se encontram.

Desfaze-te de qualquer idéia de racismo e separação, para que a fraternidade te ilumine os pensamentos.

Abstém-te de cultivar ressentimentos e ódios, para que o amor não se te mantenha distante do próprio ambiente.

Evita salientar a delinqüência e a crueldade, de modo a que não se te transforme o verbo nessa ou naquela indução infeliz, em algum dos cérebros que te escutam.

Sejamos irmãos uns dos outros, respeitando os opositores que, porventura, não nos compreendam.

E se observarmos irmãos positivamente errados, anotemos as qualidades nobres que já possuem e procuremos vê-los ou interpretá-los através do melhor que nos apresentem, lembrando-nos de que o amor infinito de Deus nos tolera a todos, doando-nos, a cada um, a bênção do tempo, dentro da qual, seguindo de prova em prova e de experiência em experiência, ser-nos-á possível adquirir o passo firme e certo na conquista da perfeição.

Comecemos pelas bases da compreensão.

Se nos ajustarmos às leis de equilíbrio que nos governam, reconheceremos que os desacertos do mundo são justificáveis.

(“Paz” de F C Xavier e Emmanuel)



Plantão da Paz, capítulo 5;



SIMPATIA

Auxilia o pântano e receberás a terra fecunda.

Purifica a fonte poluída e recolherás a água potável.

Seleciona o barro escuro e encontrarás a argila precisa em teu vaso.

Ampara hoje a sementeira frágil e terás a colheita feliz de amanhã.

Lavra a pedra e terás valiosas utilidades.

Aperfeiçoa a madeira bruta e exibirás preciosas peças de beleza e aprimoramento.

Não desprezes o cascalho contundente e nele, muitas vezes, identificarás a existência do ouro.

Assim também não fujas à dor porque a dor bem aproveitada é nobre instrumento, através do qual verte para nós outros a corrente dos recursos espirituais.

Se desejas realização e vitória, dons e talentos no campo da própria vida, não te esqueças da necessidade de simpatia.

Auxilia a todos, busca entender tudo e tudo respeitar e, com o tempo, perceberás que todos virão ao teu encontro, estendendo-te amparo e compreensão para que subas livremente à grandeza da Vida Maior.

(“Plantão de Paz” de F C Xavier e Emmanuel)



Pontos e Contos, capítulo 40;



OLÁ, MEU IRMÃO

— A disposição amiga — acentuava Cipriano Neto — é verdadeiro tônico espiritual. Não raro, envenenamos o coração, à força de insistir na máscara sombria. Má catadura é moléstia perigosa, porquanto as enfermidades não se circunscrevem ao corpo físico. Quantos negócios de muletas, quantas atividades nobres interrompidas, em virtude do mau humor dos responsáveis? Claro que ninguém se deixe absorver pelos malandros de esquina, mas o respeito e a afabilidade para com as criaturas honestas, seja onde for, constituem alguma coisa de sagrado, que não esqueceremos sem ferir a nós mesmos.

À frente da pequena assembléia, toda ouvidos, Cipriano, com a graça de sua privilegiada inteligência, continuou, após leve pausa:

— Na Terra, o preconceito fala muito alto, abafando vozes sublimes da realidade superior. Nesse capítulo, tenho a minha experiência pessoal, bastante significativa.

Meu amigo calou-se, por alguns momentos, vagueou o olhar muito lúcido, através do horizonte longínquo, como a vasculhar o passado, e prosseguiu:

— É quase inacreditável, mas o meu fracasso em Espiritismo não teve outra causa. Não ignoram vocês que meu coração de pai, dilacerado pela morte do filho querido, fora convocado à Doutrina dos Espíritos, ansioso de esclarecimento e consolação. Banhado de conforto sublime, senti que minhas lágrimas de desesperação se transformaram em orvalho de agradecimento à bondade de Deus. Meu filho não morrera. Mais vivo que nunca, endereçava-me carinhosas palavras de amor. Identificara-se de mil modos. Não havia lugar à dúvida. Inclinei-me, então, à Doutrina renovadora. Saciado pela água viva de santas consolações, não sabia como agradecer à fonte. Foi aí que recordei as minhas possibilidades intelectuais. Não seria justo servir ao Espiritismo, através da palavra ou da pena? Poderia escrever para os jornais ou falar em público. Profundamente reconhecido à nova fé, atendi à primeira sugestão de um amigo e dispus-me a fazer uma conferência. Anunciou-se o feito e, no dia aprazado, compacta assistência esperou-me a confissão. Seduzido pela beleza do Espiritismo Evangélico, discorri longamente sobre a caridade. Aplausos, abraços, sorrisos e felicitações. No círculo dos meus companheiros de literatura, porém, o assunto fizera-se obrigatório. Voltando à Avenida, no dia imediato ao acontecimento, meu esforço foi árduo para convencer os confrades de letras de que não me achava louco. Infelizmente, porém, minha decisão não se filiava senão à vaidade. Pronunciara a conferência como se o Espiritismo necessitasse de mim. Admitia, no fundo, que minha presença honrara, sobremaneira, o auditório e que a codificação kardequiana em mim encontrara prestigioso protetor. Desse modo, alardeava suma importância em minhas palestras novas. Citava a antigüidade clássica, recorria aos grandes filósofos, mencionava cientistas modernos. Quando nos encontrávamos, meus colegas e eu, no ápice das discussões preciosas, eis que surge o Elpídio, velho conhecido meu e antigo tintureiro em Jacarepaguá. Sapatos rotos, calças remendadas, cabelos despenteados, rosto suarento, abeirou-se de mim e estendeu-me a destra, exclamando alegre:

— Olá, meu irmão! Meus parabéns!... Fiquei muito satisfeito com a sua conferência!

Entreolharam-se os meus amigos, admirados.

E confesso que respondi à saudação efusiva, secamente, meneando levemente a cabeça e sentindo-me deveras humilhado.

Em vista do meu silêncio, o tintureiro despediu-se, mostrando enorme desapontamento.

— “É de sua família?” — indagou um companheiro mais irônico.

— “Estes senhores espiritistas são os campeões da ingenuidade!” — exclamou outro circunstante.

Enraiveci-me. Não era desaforo semelhante homem do povo chamar-me “irmão”, ali, em plena Avenida, diante dos colegas de tertúlias acadêmicas? Estaria, então, obrigado a relacionar-me com toda espécie de vagabundos? Não seria aquilo irmanar-me a rebotalhos de gente, na via pública?

O incidente criou em mim vasto complexo de inferioridade.

Cegavam-me, ainda, velhos preconceitos sociais e a ironia dos companheiros calou-me fundo, no espírito. A ausência de afabilidade e a incompreensão grosseira dominaram-me por completo. O fermento da negação trabalhou-me o íntimo, levedando a massa de minhas disposições mentais. Resultado? Voltei à aspereza antiga e, se cuidava de doutrina, confinava-me a reduzido círculo doméstico. Não estimava a companhia ou a intimidade daqueles que considerava inferiores. Os anos, todavia, correm metodicamente, alheios à nossa vaidade e ignorância, e impuseram-me a restituição do organismo cansado ao seio acolhedor da terra. Sabem vocês, por experiência própria, o que nos acontece a essa altura da existência humana. Gritos estentóricos de familiares, pavor de afeiçoados, ataúde a recender aromas de flores das convenções sociais. Em meio da perturbação geral, senti que sono brando se apoderava de mim. Nunca pude saber quantos dias gastei no repouso compulsório. Despertando, porém, debalde clamei por meu filho bem-amado. Sabia perfeitamente que abandonara a esfera carnal e ansiava por reencontrar-lhe o carinho. Deixei a residência antiga, ferido de amargosas preocupações. Atravessei ruas e praças, de alma opressa. Atingi a Avenida, onde me dava ao luxo de palestrar sobre ciência e literatura. E ali mesmo, junto ao aristocrático Café, divisei alguém que não me era estranho às relações individuais. Não tive dificuldades no reconhecimento. Era o Elpídio, integralmente transformado, evidenciando nobre posição espiritual, trocando idéias com outras entidades da vida superior. Não mais os sapatos velhos, nem o rosto suarento, mas singular aprumo, aliado a expressão simpática e bela, cheia de bondade e compreensão.

Aproximei-me, envergonhado. Quis dizer qualquer coisa que me revelasse a angústia, mas, obedecendo a impulso que eu jamais soube explicar, apenas pude repetir as antigas palavras dele:

— “Olá, meu irmão! Meus parabéns!”

Longe, todavia, de imitar-me o gesto grosseiro e tolo de outro tempo, o generoso tintureiro de Jacarepaguá abriu-me os braços, contente, e exclamou com sincera alegria:

— Ó meu amigo, que satisfação! Venha daí, vou conduzi-lo ao seu filho!

Aquela bondade espontânea, aquele fraternal esquecimento de minha falta eram por demais eloqüentes e não pude evitar as lágrimas copiosas!...

Nossa pequena assembléia de desencarnados achava-se igualmente comovida. Cipriano calou-se, enxugou os olhos úmidos e terminou:

— A experiência parece demasiadamente humilde; entretanto, para mim, representou lição das mais expressivas. Através dela, fiquei sabendo que a afabilidade é mais que um dever social, é alguma coisa de Deus que não subtrairemos ao próximo, sem prejudicar a nós mesmos.

(“Pontos e Contos” de F C Xavier e Irmão X)



Recados da Vida, capítulo 17;



APOIO FRATERNO

Maria Dolores

Não te omitas no socorro

Aos que pareçam felizes,

Quem vê as flores no ramo

Não vê praga nas raízes;

Nem faças beneficência

De face tristonha e fria,

A porta da caridade

Tem nome de "cortesia".

(“Recados da Vida” d F C Xavier e espíritos diversos)



Roteiro, capítulos 19 e 21;



evangelho e simpatia

Do apostolado de Jesus, destaca-se a simpatia por alicerce da felicidade humana.

A violência não consta da sua técnica de conquistar.

Ainda hoje, vemos vasta fileira de lidadores do sacerdócio usando, em nome dEle, a imposição e a crueldade; todavia, o Mestre, invariavelmente, pautou os seus ensinamentos nas mais amplas normas de respeito aos seus contemporâneos.

Jamais faltou com o entendimento justo para com as pessoas e as situações.

Divino Semeador, sabia que não basta plantar os bons princípios e sim oferecer, antes de tudo, à semente favoráveis condições, necessários à germinação e ao crescimento.

Certo, em se tratando do interesse coletivo, Jesus não menoscaba a energia benéfica.

Exprobra o comercialismo desenfreado que humilha o Templo, quanto profliga os erros de sua época.

Entretanto, diante das criaturas dominadas pelo mal, enche-se de profunda compaixão e tolerância construtivas.

Aos enfermos não indaga quanto à causa das aflições que os vergastam, para irritá-los com reclamações.

Aos enfermos não indaga quando à causa das aflições que os vergastam, para irritá-los com reclamações.

Auxilia-os e cura-os.

Os apontamentos que dirige aos pecadores e transviados são recomendações doces e sutis.

Ao doente curado do Tanque de Betesda, explica despretensioso:

_ Vai e não reincidas no erro para que te não aconteça coisa pior.

À pobre mulher, apedrejada na praça pública, adverte, bondoso:

_ Vai e não peques mais.

Não indica o inferno às vitimas da sombra. Reergue-as, compassivo, e acende-lhes nova luz.

Compreende os problemas e as lutas de cada um.

Atrai as crianças a si, compadecidamente, infundindo nova confiança aos corações maternos.

Sabe que Pedro é frágil, mas não desespera e confia nele.

Contempla o torvo drama do espírito de Judas, no entanto, não o expulsa.

Reconhece que a maioria dos beneficiários não se revelam à altura das concessões que solicitam, contudo, não lhes nega assistência.

Preso, recompõe e orelha de Malco, o soldado.

À frente de Pilatos e da Ántipas, não pede providências suscetíveis de lançar a discórdia, ainda mesmo a título de preservação da justiça.

Longe de impacientar-se com a presença dos malfeitores que também sofreram a crucificação, inclina-se amistosamente para eles e busca entendê-los e encoraja-los.

Á turba que o rodeia com palavrões e cutiladas envia pensamentos de paz e votos de perdão.

E, ainda além da morte, não foge aos companheiros que fugiram. Materializa-se, diante deles, induzindo-os ao serviço da regeneração humana, com o incentivo de sua presença e de seu amor, até ao fim da luta.

Em todas as passagens do Evangelho, perante o coração humano, sentimos no Senhor o campeão da simpatia, ensinando como sanar o mal e construir o bem. E desde a Manjedoura, sob a sua divina inspiração, um novo caminho redentor se abre aos homens, no rumo da paz e da felicidade, com bases no auxílio mútuo e no espírito de serviço, na bondade e na confraternização.

(“Roteiro”, de F C Xavier e Emmanuel)



evangelho e educação

Quando o mestre confiou ao mundo a divina mensagem da Boa Nova, a Terra, sem dúvida, não se achava desprovida de sólida cultura.

Na Grécia, as artes haviam atingido luminosa culminância e, em Roma, bibliotecas preciosas circulavam por toda parte, divulgando a política e a ciência, a filosofia e a religião.

Os escritores possuíam corpos de copistas especializados e professores eméritos conservavam tradições e ensinamentos, preservando o tesouro da inteligência.

Prosperava a instituição, em todos os lugares, mas a educação demorava-se em lamentável pobreza.

O cativeiro consagrado por lei era flagelo comum.

A mulher, aviltada em quase todas as regiões, recebia tratamento inferior ao que se dispensava aos cavalos.

Homens de consciência enobrecia, por infelicidade financeira ou por questiúnculas de raça, eram assinalados a ferro candente e submetidos à penosa servidão, anotados como animais.

Os pais podiam vender os filhos.

Era razoável cegar os vencidos e aproveita-los em serviços domésticos.

As crianças fracas eram, quase sempre, punidas com a morte.

Enfermos eram sentenciados ao abandono.

As mulheres infelizes podiam ser apedrejadas com o beneplácito da justiça.

Os mutilados deviam perecer nos campos de luta, categorizados à conta de carne inútil.

Qualquer tirano desfrutava o direito do reduzir os governados à extrema penúria, sem ser incomodado por ninguém.

Feras devoravam homens vivos nos espetáculos e divertimentos públicos, com aplauso geral.

Rara a festividade do povo que transcorria sem vasta efusão de sangue humano, como impositivo natural dos costumes.

Com Jesus, entretanto, começa uma era nova para o sentimento.

Condenado ao supremo sacrifício, sem reclamar, e rogando o perdão celeste para aqueles que o vergastavam a feriam, instila no ânimo dos seguidores novas disposições espirituais.

Iluminados pela Divina Influência, os discípulos do Mestre consagram-se ao serviço dos semelhantes.

Simão Pedro e os companheiros dedicam-se aos doentes e infortunados.

Instituem-se casas de socorro para os necessitados e escolas de evangelização para o espírito popular.

Pouco a pouco, altera-se a paisagem social, no curso dos séculos.

Dilacerados e atormentados, entregues ao supremo sacrifício nas demonstrações sanguinolentas dos tribunais e das praças públicas, ou trancafiados nas prisões, os aprendizes do Evangelho ensinam a compaixão e a solidariedade, a bondade e o amor, a fortaleza moral e a esperança.

Há grupos de servidores, que se devotam ao trabalho remunerado para a libertação de numerosos cativos.

Senhores da fortuna e da terra, tocados nas fibras mais íntimas, devolvem escravos ao mundo livre.

Doentes encontram remédio, mendigos acham teto, desesperados se reconfortam, órfãos são recebidos no lar.

Nova mentalidade surge na Terra.

O coração educado aparece, por abençoada luz, nas sombras da vida.

A gentileza e a afabilidade passam a reger o campo das boas maneiras e, sob a inspiração do Mestre Crucificado, homens de pátrias e raças diferentes aprenderam a encontrar-se com alegria, exclamando, felizes: _ “meu irmão”.

(“Roteiro”, de F C Xavier e Emmanuel)



Sinal Verde, capítulos 2, 3, 4, 9, 11 e 28;



SAUDAÇÕES

Toda saudação deve basear-se em pensamentos de paz e alegria.

Pense no seu contentamento quando alguém lhe endereça palavras de afeto e simpatia, e faça o mesmo para com os outros.

Mobilize o capital do sorriso e observará que semelhante investimento lhe trará precioso rendimento de colaboração e felicidade.

Uma frase de bondade e compreensão opera prodígios na construção do êxito.

Auxilie aos familiares com a sua palavra de entendimento e esperança.

Se você tem qualquer mágoa remanescendo da véspera, comece o dia, à maneira do Sol: - esquecendo a sombra e brilhando de novo.

(“Sinal Verde”, de F C Xavier e André Luiz)



NOS DOMÍNIOS DA VOZ

Observe como vai indo a sua voz, porque a voz é dos instrumentos mais importantes na vida de cada um.

A voz de cada pessoa está carregada pelo magnetismo dos seus próprios sentimentos.

Fale em tonalidade não tão alta que assuste e nem tão baixa que crie dificuldade a quem ouça.

Sempre aconselhável repetir com paciência o que já foi dito para o interlocutor, quando necessário, sem alterar o tom de voz, entendendo-se que nem todas as pessoas trazem audição impecável.

A quem não disponha de facilidades para ouvir, nunca dizer frases como estas: "Você está surdo?",

"Você quer que eu grite?", "Quantas vezes quer você que eu fale?" ou " já cansei de repetir isso".

A voz descontrolada pela cólera, no fundo, é uma agressão e a agressão jamais convence.

Converse com serenidade e respeito, colocando-se no lugar da pessoa que ouve, e educará suas manifestações verbais com mais segurança e proveito.

Em qualquer telefonema, recorde que no outro lado do fio está alguém que precisa de sua calma, a fim de manter a própria tranqüilidade.

(“Sinal Verde”, de F C Xavier e André Luiz)



NO RECINTO DOMÉSTICO

Bondade no campo doméstico é a caridade começando em casa.

Nunca fale aos gritos, abusando da intimidade com os entes queridos.

Utilize os pertences caseiros sem barulho, poupando o lar a desequilíbrio e perturbação.

Aprenda a servir-se, tanto quanto possível, de modo a não agravar as preocupações da família.

Colabore na solução do problema que surja, sem alterar-se na queixa.

A sós ou em grupo, tome sua refeição sem alarme.

Converse edificando a harmonia.

É sempre possível achar a porta do entendimento mútuo, quando nos dispomos a ceder, de nós mesmos, em pequeninas demonstrações de renúncia a pontos de vista.

Quantas vezes um problema aparentemente insolúvel pede tão somente uma palavra calmante para ser resolvido?

Abstenha-se de comentar assuntos escandalosos ou inconvenientes.

Em matéria de doenças, fale o estritamente necessário.

Procure algum detalhe caseiro para louvar o trabalho e o carinho que lhe compartilham a existência.

Não se aproveite da conversação para entretecer apontamentos de crítica ou censura, seja a quem seja.

Se você tem pressa de sair, atenda ao seu regime de urgência com serenidade e respeito, sem estragar a tranqüilidade dos outros.

(“Sinal Verde”, de F C Xavier e André Luiz)



APRESENTAÇÕES

Em se vendo objeto de apresentação, não deve enunciar seus títulos e lances autobiográficos, mas se você apresenta alguém, é justo lhe decline o valor sem afetação.

Diante de algum apontamento desairoso para com os ausentes, recorde o impositivo do respeito e da generosidade para com eles.

Nunca impossível descobrir algo de bom em alguém ou em alguma situação para o comentário construtivo.

Qualquer criatura que se mostre necessitada de pedir-lhe um favor, é um teste para a sua capacidade de entendimento e para os seus dotes de educação.

Um mendigo é um companheiro no caminho a quem talvez amanhã tenhamos de solicitar apoio fraterno.

A criança desprotegida que encontramos na rua não é motivo para revolta ou exasperação, e sim um apelo para que trabalhemos com mais amor pela edificação de um mundo melhor.

Não adianta reprimenda para o irmão embriagado, de vez que ele, por si mesmo, já se sabe doente e menos feliz.

Toda vez que você destaque o mal, mesmo inconscientemente, está procurando arrasar o bem.

Não critique, auxilie.

Para qualquer espécie de sofrimento é possível dar migalha de alívio e amparo, ainda quando semelhante migalha não passe de um sorriso de simpatia e compreensão.

(“Sinal Verde”, de F C Xavier e André Luiz)



COMÉRCIO E INTERCÂMBIO

O Comércio é também uma escola de fraternidade.

Realmente, carecemos da atenção do vendedor, mas o vendedor espera de nós a mesma atitude.

Diante de balconistas fatigados ou irritadiços, reflitamos nas provações que, indubitavelmente, os constrange nas retaguardas da família ou do lar, sem negar-lhes consideração e carinho.

A pessoa que se revela mal-humorada, em seus contatos públicos, provavelmente carrega um fardo pesado de inquietação e doença.

Abrir caminho, à força de encontrões, não é só deselegância, mas igualmente lastimável descortesia.

Dar passagem aos outros, em primeiro lugar, seja no elevador ou no coletivo, é uma forma de expressar entendimento e bondade humana.

Aprender a pedir um favor aos que trabalham em repartições, armazéns, lojas ou bares, é obrigação.

Evitar anedotário chulo ou depreciativo, reconhecendo-se que as palavras criam imagens e as imagens patrocinam ações.

Zombaria ou irritação complicam situações sem resolver os problemas.

Quando se sinta no dever de reclamar, não faça de seu verbo instrumento de agressão.

O erro ou o engano dos outros talvez fossem nossos se estivéssemos nas circunstâncias dos outros.

Afabilidade é caridade no trato pessoal.

(“Sinal Verde”, de F C Xavier e André Luiz)



MODOS DESAGRADÁVEIS

Manejar portas a pancadas ou pontapés.

Arrastar móveis com estrondo sem necessidade.

Censurar os pratos servidos à mesa.

Sentar-se desgovernadamente.

Assoar-se e examinar os resíduos recolhidos no lenço, junto dos outros, esquecendo que isso é mais fácil no banheiro mais próximo.

Bocejar ruidosamente enquanto alguém está com a palavra.

Falar como quem agride.

Efusões afetivas exageradas, em público.

Interromper a conversação alheia.

Não nos esqueçamos de que a gentileza e o respeito, no trato pessoal, também significam caridade.

(“Sinal Verde”, de F C Xavier e André Luiz)



Viajor, capítulo 15;



BENEVOLÊNCIA

Reflete na Benevolência Divina para que a tua passagem na Terra não se transforme em agressivo espinheiro de ironia e desilusão.

Por toda parte, a Tolerância Celeste, amparando e reconstituindo...

O sol que resplende para justos e injustos.

O ar que alimenta as vítimas da ignorância e os expoentes da sabedoria.

A fonte que dessedenta lobos e ovelhas.

O solo respondendo aos corações que o servem com amor e aos braços que o exploram com criminosa avidez...

Em todos os lugares, descobrirás a vida renascente, possuída de esperança, desde o grelo tenro na árvore dilacerada que se refaz ao espírito humano que torna aos panos do berço, no socorro do esquecimento, ante o passado infeliz, para que em temporária ocultação da memória consiga restaurar-se para o futuro...

Se o Criador adota infinitos recursos para auxiliar as criaturas, em crescimento para a Vida Superior, com que direito mergulharemos a idéia ou a palavra no veneno do escárnio ou da crítica para espalhar o desânimo e consagrar a destruição?

Não olvides que o mundo aparece repleto de autoridades e apetrechos da Justiça para corrigir e readaptar.

Magistrados e meirinhos, penitenciárias e enxovias diversas são designados no campo da ordem para a missão difícil da emenda.

Não faças, assim, mais infortunado o irmão que caiu sob as teias da sombra, alargando-lhe as úlceras com os golpes de azedume e reprovação.

Lembra-te de que amanhã as chagas da luta humana podem igualmente cobrir-te a pele e qual o companheiro que hoje sofre reclamarás também o elixir do consolo e o bálsamo do perdão.

Esqueçamos o mal e abracemos o bem na certeza de que somente em Cristo conseguiremos atingir a vitória da luz com a luz de nossa própria renovação.

(“Viajor” de F C Xavier e Emmanuel)