sábado, 11 de agosto de 2012

“... NÃO JULGAR, DEFINITIVAMENTE NÃO JULGAR A QUEM QUER QUE SEJA” (Chico Xavier)


O Livro dos Espíritos, questões 632, 636, 641, 642, 764, 794,860, 876 e 903;



632. Estando sujeito ao erro, não pode o homem enganar-se na apreciação do bem e do mal e crer que pratica o bem quando em realidade pratica o mal?

“Jesus disse: vede o que queríeis que vos fizessem ou não vos fizessem. Tudo se resume nisso. Não vos enganareis.”

636. São absolutos, para todos os homens, o bem e o mal?

“A lei de Deus é a mesma para todos; porém, o mal depende principalmente da vontade que se tenha de o praticar. O bem é sempre o bem e o mal sempre o mal, qualquer que seja a posição do homem. Diferença só há quanto ao grau da responsabilidade.”

641. Será tão repreensível, quanto fazer o mal, o desejá-lo?

“Conforme. Há virtude em resistir-se voluntariamente ao mal que se deseja praticar, sobretudo quando há possibilidade de satisfazer-se a esse desejo. Se apenas não o pratica por falta de ocasião, é culpado quem o deseja.”

642. Para agradar a Deus e assegurar a sua posição futura, bastará que o homem não pratique o mal?

“Não; cumpre-lhe fazer o bem no limite de suas forças, porquanto responderá por todo mal que haja resultado de não haver praticado o bem.”

794. Poderia a sociedade reger-se unicamente pelas leis naturais, sem o concurso das leis humanas?

“Poderia, se todos as compreendessem bem. Se os homens as quisessem praticar, elas bastariam. A sociedade, porém, tem suas exigências. São-lhe necessárias leis especiais.”

860. Pode o homem, pela sua vontade e por seus atos, fazer que se não deem acontecimentos que deveriam verificar-se e reciprocamente?

“Pode-o, se essa aparente mudança na ordem dos fatos tiver cabimento na seqüência da vida que ele escolheu. Acresce que, para fazer o bem, como lhe cumpre, pois que isso constitui o objetivo único da vida, facultado lhe é impedir o mal, sobretudo aquele que possa concorrer para a produção de um mal maior.”

876. Posto de parte o direito que a lei humana consagra, qual a base da justiça, segundo a lei natural?

“Disse o Cristo: Queira cada um para os outros o que quereria para si mesmo. No coração do homem imprimiu Deus a regra da verdadeira justiça, fazendo que cada um deseje ver respeitados os seus direitos. Na incerteza de como deva proceder com o seu semelhante, em dada circunstância, trate o homem de saber como quereria que com ele procedessem, em circunstância idêntica. Guia mais seguro do que a própria consciência não lhe podia Deus haver dado.”

Efetivamente, o critério da verdadeira justiça está em querer cada um para os outros o que para si mesmo quereria e não em querer para si o que quereria para os outros, o que absolutamente não é a mesma coisa. Não sendo natural que haja quem deseje o mal para si, desde que cada um tome por modelo o seu desejo pessoal, é evidente que nunca ninguém desejará para o seu semelhante senão o bem. Em todos os tempos e sob o império de todas as crenças, sempre o homem se esforçou para que prevalecesse o seu direito pessoal. A sublimidade da religião cristã está em que ela tomou o direito pessoal por base do direito do próximo.

903. Incorre em culpa o homem, por estudar os defeitos alheios?

“Incorrerá em grande culpa, se o fizer para os criticar e divulgar, porque será faltar com a caridade. Se o fizer, para tirar daí proveito, para evitá-los, tal estudo poderá ser-lhe de alguma utilidade. Importa, porém, não esquecer que a indulgência para com os defeitos de outrem é uma das virtudes contidas na caridade. Antes de censurardes as imperfeições dos outros, vede se de vós não poderão dizer o mesmo. Tratai, pois, de possuir as qualidades opostas aos defeitos que criticais no vosso semelhante. Esse o meio de vos tornardes superiores a ele. Se lhe censurais a ser avaro, sede generosos; se o ser orgulhoso, sede humildes e modestos; se o ser áspero, sede brandos; se o proceder com pequenez, sede grandes em todas as vossas ações. Numa palavra, fazei por maneira que se não vos possam aplicar estas palavras de Jesus: Vê o argueiro no olho do seu vizinho e não vê a trave no seu próprio.”



O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo 10 itens 9 a13;



O argueiro e a trave no olho

9. Como é que vedes um argueiro no olho do vosso irmão, quando não vedes uma trave no vosso olho? - Ou, como é que dizeis ao vosso irmão: Deixa-me tirar um argueiro ao teu olho, vós que tendes no vosso uma trave? - Hipócritas, tirai primeiro a trave ao vosso olho e depois, então, vede como podereis tirar o argueiro do olho do vosso irmão. (MATEUS, 7, 3 a 5)

10. Uma das insensatezes da Humanidade consiste em vermos o mal de outrem, antes de vermos o mal que está em nós. Para julgar-se a si mesmo, fora preciso que o homem pudesse ver seu interior num espelho, pudesse, de certo modo, transportar-se para fora de si próprio, considerar-se como outra pessoa e perguntar: Que pensaria eu, se visse alguém fazer o que faço? Incontestavelmente, é o orgulho que induz o homem a dissimular, para si mesmo, os seus defeitos, tanto morais, quanto físicos. Semelhante insensatez é essencialmente contrária à caridade, porquanto a verdadeira caridade é modesta, simples e indulgente. Caridade orgulhosa é um contra senso, visto que esses dois sentimentos se neutralizam um ao outro. Com efeito, como poderá um homem, bastante presunçoso para acreditar na importância da sua personalidade e na supremacia das suas qualidades, possuir ao mesmo tempo abnegação bastante para fazer ressaltar em outrem o bem que o eclipsaria, em vez do mal que o exalçaria? Por isso mesmo, porque é o pai de muitos vícios, o orgulho é também a negação de muitas virtudes. Ele se encontra na base e como móvel de quase todas as ações humanas. Essa a razão por que Jesus se empenhou tanto em combatê-lo, como principal obstáculo ao progresso.



Não julgueis, para não serdes julgados. - Atire a primeira pedra aquele que estiver sem pecado



11. Não julgueis, a fim de não serdes julgados; - porquanto sereis julgados conforme houverdes julgado os outros; empregar-se-á convosco a mesma medida de que voz tenhais servido para com os outros. (MATEUS, 7, 1 e 2)

12. Então, os escribas e os fariseus lhe trouxeram uma mulher que fora surpreendida em adultério e, pondo-a de pé no meio do povo, - disseram a Jesus: “Mestre, esta mulher acaba de ser surpreendida em adultério; - ora, Moisés, pela lei, ordena que se lapidem as adúlteras. Qual sobre isso a tua opinião?” - Diziam isto para o tentarem e terem de que o acusar. Jesus, porém, abaixando-se, entrou a escrever na terra com o dedo. - Como continuassem a interrogá-lo, ele se levantou e disse: “Aquele dentre vós que estiver sem pecado, atire a primeira pedra.” - Em seguida, abaixando-se de novo, continuou a escrever no chão. - Quanto aos que o interrogavam, esses, ouvindo-o falar daquele modo, se retiraram, um após outro, afastando-se primeiro os velhos. Ficou, pois, Jesus a sós com a mulher, colocada no meio da praça. Então, levantando-se, perguntou-lhe Jesus: “Mulher, onde estão os que te acusaram? Ninguém te condenou?” - Ela respondeu: “Não, Senhor.” Disse-lhe Jesus: “Também eu não te condenarei. Vai-te e de futuro não tornes a pecar.” (JOÃO, 8, 3 a 11)

13. "Atire-lhe a primeira pedra aquele que estiver isento de pecado", disse Jesus. Essa sentença faz da indulgência um dever para nós outros, porque ninguém há que não necessite, para si próprio, de indulgência. Ela nos ensina que não devemos julgar com mais severidade os outros, do que nos julgamos a nós mesmos, nem condenar em outrem aquilo de que nos absolvemos. Antes de profligarmos a alguém uma falta, vejamos se a mesma censura não nos pode ser feita. O reproche lançado à conduta de outrem pode obedecer a dois móveis: reprimir o mal, ou desacreditar a pessoa cujos atos se criticam. Não tem escusa nunca este último propósito, porquanto, no caso, então, só há maledicência e maldade. O primeiro pode ser louvável e constitui mesmo, em certas ocasiões, um dever, porque um bem deverá daí resultar, e porque, a não ser assim, jamais, na sociedade, se reprimiria o mal. Não cumpre, aliás, ao homem auxiliar o progresso do seu semelhante? Importa, pois, não se tome em sentido absoluto este princípio: "Não julgueis se não quiserdes ser julgado", porquanto a letra mata e o espírito vivifica.

Não é possível que Jesus haja proibido se profligue o mal, uma vez que ele próprio nos deu o exemplo, tendo-o feito, até, em termos enérgicos. O que quis significar é que a autoridade para censurar está na razão direta da autoridade moral daquele que censura. Tornar-se alguém culpado daquilo que condena noutrem é abdicar dessa autoridade, é privar-se do direito de repressão. A consciência íntima, ao demais, nega respeito e submissão voluntária àquele que, investido de um poder qualquer, viola as leis e os princípios de cuja aplicação lhe cabe o encargo. Aos olhos de Deus, uma única autoridade legítima existe: a que se apoia no exemplo que dá do bem. E o que, igualmente, ressalta das palavras de Jesus.



O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo 11 item 14;



Caridade para com os criminosos

14. A verdadeira caridade constitui um dos mais sublimes ensinamentos que Deus deu ao mundo. Completa fraternidade deve existir entre os verdadeiros seguidores da sua doutrina. Deveis amar os desgraçados, os criminosos, como criaturas, que são, de Deus, às quais o perdão e a misericórdia serão concedidos, se se arrependerem, como também a vós, pelas faltas que cometeis contra sua Lei. Considerai que sois mais repreensíveis, mais culpados do que aqueles a quem negardes perdão e comiseração, pois, as mais das vezes, eles não conhecem Deus como o conheceis, e muito menos lhes será pedido do que a vós.

Não julgueis, oh! não julgueis absolutamente, meus caros amigos, porquanto o juízo que proferirdes ainda mais severamente vos será aplicado e precisais de indulgência para os pecados em que sem cessar incorreis. Ignorais que há muitas ações que são crimes aos olhos do Deus de pureza e que o mundo nem sequer como faltas leves considera?

A verdadeira caridade não consiste apenas na esmola que dais, nem, mesmo, nas palavras de consolação que lhe aditeis. Não, não é apenas isso o que Deus exige de vós. A caridade sublime, que Jesus ensinou, também consiste na benevolência de que useis sempre e em todas as coisas para com o vosso próximo. Podeis ainda exercitar essa virtude sublime com relação a seres para os quais nenhuma utilidade terão as vossas esmolas, mas que algumas palavras de consolo, de encorajamento, de amor, conduzirão ao Senhor supremo. Estão próximos os tempos, repito-o, em que nesse planeta reinará a grande fraternidade, em que os homens obedecerão à lei do Cristo, lei que será freio e esperança e conduzirá as almas às moradas ditosas. Amai-vos, pois, como filhos do mesmo Pai; não estabeleçais diferenças entre os outros infelizes, porquanto quer Deus que todos sejam iguais; a ninguém desprezeis. Permite Deus que entre vós se achem grandes criminosos, para que vos sirvam de ensinamentos. Em breve, quando os homens se encontrarem submetidos às verdadeiras leis de Deus, já não haverá necessidade desses ensinos: todos os Espíritos impuros e revoltados serão relegados para mundos inferiores, de acordo com as suas inclinações.

Deveis, àqueles de quem falo, o socorro das vossas preces: é a verdadeira caridade. Não vos cabe dizer de um criminoso: “é um miserável; deve-se expurgar da sua presença a Terra; muito branda é, para um ser de tal espécie, a morte que lhe infligem." Não, não é assim que vos compete falar. Observai o vosso modelo: Jesus. Que diria ele, se visse junto de si um desses desgraçados? Lamentá-lo-ia; considerá-lo-ia um doente bem digno de piedade; estender-lhe-ia a mão. Em realidade, não podeis fazer o mesmo; mas, pelo menos, podeis orar por ele, assistir-lhe o Espírito durante o tempo que ainda haja de passar na Terra. Pode ele ser tocado de arrependimento, se orardes com fé. E tanto vosso próximo, como o melhor dos homens; sua alma, transviada e revoltada, foi criada, como a vossa, para se aperfeiçoar; ajudai-o, pois, a sair do lameiro e orai por ele. Elisabeth de França. (Havre, 1862.)



Algo Mais, capítulo 28 – “Auto julgamento”



Se te decidires a praticar compreensão, adiantar-te ás, consideravelmente, no caminho do amor, em direção à paz que se te fará suporte à felicidade.

Para isso, é imperioso te situes no lugar dos outros; de modo a que não percas tempo, com qualquer julgamento leviano, capaz de arrojar-te em complicações e enganos, por vezes, de lastimável e longa duração.

Se te observares na condição do agressor, imagina quão valioso se te faria o perdão daqueles a quem houvesse ferido, após reconheceres que te desmandaste num momento de desequilíbrio e loucura.

Fosses a pessoa encarcerada em penúria e doença e saberias agradecer os gestos espontâneos de quem te doasse alguns minutos de reconforto ou leves migalhas de auxílio.

Caso te visses no lugar da pessoa caída em tentação, reflete se poderias haver resistido, com mais eficiência, ao assédio das sugestões infelizes.

Estivesses na posição daqueles que controlam a fortuna ou o poder, a influência ou a autoridades e examina, por ti mesmo, qual seria o teu comportamento.

Colocando-te na situação dos companheiros em lágrimas que viram partir entes amados, sob a neblina da morte, mentaliza a extensão do sofrimento que te dilapidaria o coração ao perder a companhia daqueles que mais amas.

De quando a quando, sujeita-te, no silêncio, aos testes dessa natureza, dialogando intimamente de ti para contigo e descobrirás em ti as fontes de renovação espiritual a te nutrirem os sentimentos com novos princípios de tolerância e humanidade.

Realmente, advertiu-nos Jesus:

- “Não julgues para não serdes julgados.”

O Divino Mestre, entretanto, não nos proclamou impedidos de julgar a nós próprios, de modo a revisarmos nossos ideais e atitudes, colocando-nos finalmente a caminho da própria sublimação.

(“Algo Mais” de F C Xavier e Emmanuel)

Alma e coração, capítulo 28 – “Julgamentos”;



Observando os atos dos outros, é importante lembrar que os outros igualmente estão anotando os nossos. Sabemos, no entanto, de experiência própria que, em muitos acontecimentos da vida, há enorme distância entre as nossas intenções e nossas manifestações.

Quantas vezes somos interpretados como ingratos e insensíveis, por havermos assumido atitude enérgica ante determinado setor de nossas relações, após atravessarmos, por longo tempo, complicações e dificuldades, nas quais até mesmo os interesses alheios foram prejudicados em nossas mãos? E quantas outras vezes fomos considerados relapsos ou pusilânimes, à vista de termos praticado otimismo e benevolência, perante aqueles com os quais teremos chegado ao extremo limite da tolerância?

Em quantas ocasiões estamos sendo avaliados por disciplinadores cruéis, quando simplesmente desejamos a defesa e a vitória do entes que mais amamos, e em quantas outras passamos por tutores irresponsáveis e levianos, quando entregamos as criaturas queridas às provas difíceis que elas mesmas disputam, invocando a liberdade que as Leis do Universo conferem a cada pessoa consciente de si?

Reflete nisso e não julgues o próximo, através de aparências. Deixa que o AMOR te inspire qualquer apreciação, e, quando necessites pronunciar algum apontamento, num processo de emenda, coloca-te no lugar do companheiro sob censura e encontrarás as palavras certas para cooperar na obra de ilimitada misericórdia com que DEUS opera todas as construções e todos os reajustes.

Corrige amando o que deve ser corrigido e restaura servindo o que deve ser restaurado; entretanto, jamais condenes, porque o Senhor descobrirá meios de invalidar as posições do mal para que o bem prevaleça, e, toda vez que as circunstâncias te exijam examinar os atos dos outros, recorda que os nossos atos, no conceito dos outros, estão sendo examinados também.

(“Alma e Coração” de F C Xavier e Emmanuel)



Boa Nova, capítulo 13 – “Pecado e punição”;



Jesus havia terminado uma de suas pregações na praça pública, quando percebeu que a multidão se movimentava em alvoroço. Alguns populares mais exaltados prorrompiam em gritos, enquanto uma mulher ofegante, cabelos desgrenhados e faces macilentas, se aproximava dele, com uma súplica de proteção a lhe sair dos olhos tristes. Os muitos judeus ali aglomerados excitavam o ânimo geral, reclamando o apedrejamento da pecadora, na conformidade das antigas tradições.

Solicitado, então, a se constituir juiz dos costumes do povo, o Mestre exclamou com serenidade e desassombro, causando estupefação aos que o ouviram :

– Aquele que estiver sem pecado atire a primeira pedra.

Por toda a assembléia se fez sentir uma surpresa inquietante. As acusações morreram nos lábios mais exaltados. A multidão ensimesmava-se, para compreender a sua própria situação. Enquanto isso, o Mestre pôs-se a escrever no solo despreocupadamente.

Aos poucos, o local ficara quase deserto. Apenas Jesus e alguns discípulos lá se conservavam, tendo ao lado a mulher a ocultar as faces com as mãos.

Em dado instante, o Mestre Divino ergueu a fronte e perguntou à infeliz :

– Mulher, onde estão os teus juízes?

Observando que a pecadora lhe respondia apenas com o olhar reconhecido, onde as lágrimas aljofravam num misto de agradecimento e alegria, Jesus continuou :

– Ninguém te condenou? Também eu não te condeno. Vai e não peques mais.

A infeliz criatura retirou-se, experimentando uma sensação nova no espírito. A generosidade do Messias lhe iluminava o coração, em claridades vivas que lhe banhavam a alma toda. Mas, enquanto a pecadora se retirava, presa de intensa alegria, os poucos discípulos que se encontravam junto do Senhor não conseguiam ocultar a estranheza que lhes causara o seu gesto. Por que não condenara ele aquela mulher de vida censurável aos olhos de todos? Não se tratava de uma adúltera? Nesse ínterim, João se aproximou e interrogou:

– Mestre, por que não condenastes a meretriz de vida infame?

Jesus fixou no discípulo o olhar calmo e bondoso e redargüiu :

– Quais as razões que aduzes em favor dessa condenação? Sabes o motivo por que essa pobre mulher se prostituiu? Terás sofrido alguma vez a dureza das vicissitudes que ela atravessou em sua vida? Ignoras o vulto das necessidades e das tentações que a fizeram sucumbir a meio do caminho. Não sabes quantas vezes tem sido ela objeto do escárnio dos pais, dos filhos e dos irmãos das mulheres mais felizes. Não seria justo agravar-lhe os padecimentos infernais da consciência pesarosa e sem rumo.

– Entretanto – exclamou João, defendendo os princípios da lei antiga – ela pecou e fez jus à punição. Não está escrito que os homens pagarão, ceitil por ceitil, os seus próprios erros?

O Mestre sorriu sem se perturbar e esclareceu :

– Ninguém pode contestar que ela tenha pecado; quem estará irrepreensível na face da Terra? Há sacerdotes da lei, magistrados e filósofos, que prostituíram suas almas por mais baixo preço ; contudo, ainda não lhes vi os acusadores. A hipocrisia costuma, campear impune, enquanto se atiram pedras ao sofrimento. João, o mundo está cheio de túmulos caiados. Deus, porém, é o Pai de Bondade Infinita que aguarda os filhos pródigos em sua casa. Poder-se-ia desejar para a pecadora humilde tormento maior do que aquele a que ela própria se condenou por tempo indeterminado? Quantas vezes lhe tem faltado pão à boca faminta ou a manifestação de um carinho sincero à alma angustiada? Raras dores no mundo serão idênticas às agonias de suas noites silenciosas e tristes. Êsse o seu doloroso inferno, sua, aflitiva condenação. EÉ que, em todos os planos da vida, o instituto da justiça divina funciona, natura!mente, com seus princípios de compensação.

“Cada ser traz consigo a fagulha sagrada do Criador e erige, dentro de si, o santuário de sua presença ou a muralha sombria da negação; mas, só a luz e o bem são eternos e, um. dia, todos os redutos do mal cairão, para que Deus resplandeça no espírito de seus filhos. Não é para ensinar outra coisa que está escrito na lei – “Vós sois deuses!”Porventura, não sabes que a herança de um pai se divide entre os filhos em partes iguais? As criaturas transviadas são as que não souberam entrar na posse de seu quinhão divino, permutando-o pela satisfação de seus caprichos no desregramento ou no abuso, na egolatria ou no crime, pagando alto preço pelas suas decisões voluntárias. Examinada a situação por êsse prisma, temos de reconhecer no mundo uma vasta escola de regeneração, onde tôdas as criaturas se reabilitam da traição aos seus próprios deveres. A Terra, portanto, pode ser tida na conta de um grande hospital, onde o pecado é a doença de todos ; o Evangelho, no entanto, traz ao homem enfermo o remédio eficaz, para que tôdas as estradas se transformem em suave caminho de redenção.

“É por isso que não condeno o pecador para afastar o pecado e, em tôdas as situações, prefiro acreditar sempre no bem. Quando observares, João, os seres mais tristes e miseráveis, arrastando-se numa noite pejada de sombra e desolação lembra-te da semente grosseira que encerra um gérmen divino e que um dia se elevará do seio da terra para o beijo de luz do Sol.”

Terminada a explicação do Mestre, o filho de Zebedeu, deixando transparecer na luz do olhar a sua profunda admiração pôs-se a meditar nos ensinamentos recebidos.

***

Muito tempo ainda não transcorrera depois desse acontecimento, quando Jesus subiu de Cafarnaum. para Jerusalém, acompanhado por alguns de seus discípulos. Celebravam-se festas tradicionais entre os judeus. O Messias chegou num sábado, sob a fiscalização severa dos espíritos rigoristas de sua época. Não foras< poucos os paralíticos que o cercaram, ansiosos pelo benefício de sua virtude salvadora. Escandalizando os fanáticos, o Mestre orava e consolava, na sua jornada de gloriosa redenção. Explicando que o sábado fora feito para o homem e não o homem para o sábado, enfrentava sorridente as preocupações dos mais exigentes.

Vendo tantos cegos e aleijados aglomerados à passagem, "Tiago o interpelou:

– Mestre, sendo Deus tão misericordioso, porque pune seus filhos com defeitos e moléstias tão horríveis?...

– Acreditas, Tiago – respondeu Jesus – que Deus desça de sua sabedoria e de seu amor para punir seus próprios filhos? O Pai tem o seu plano determinado com respeito à criação inteira; mas, dentro desse plano, a cada criatura cabe uma parte na edificação, pela qual terá de responder. Abandonando o trabalho divino, para viver ao sabor dos caprichos próprios, a alma cria para si a situação correspondente, trabalhando para reintegrar-se no plano divino, depois de se haver deixado levar pelas sugestões funestas, contrárias à sua própria paz.

João compreendeu que a Palavra do Messias era a confirmação dos ensinamentos que já ouvira de seus lábios, na tarde em que a multidão exigia o apedrejamento da pecadora.

Afastaram-se, em seguida, do Tanque de Betsaida cujas águas eram tidas, em Jerusalém, na conta de miraculosa e onde o Mestre fizera andar paralíticos, dera vista a cegos e limpara leprosos. Na companhia de Tiago e João, o Senhor encaminhou-se para o templo, onde um dos paralíticos que ele havia curado relatava o acontecido, cheio de sincera alegria. Jesus aproximou-se dele e deixando entrever aos seus discípulos que desejava confirmar os ensinamentos sobre pecado e punição, falou-lhe abertamente, como se lê no texto evangélico de João : – “Eis que estás são. Não peques mais, para que te vão suceda coisa pior.”

***

Desde que esses ensinos foram dados, novas idéias de fraternidade povoaram o mundo, com respeito aos transviados, aos criminosos e aos inimigos, atingindo a própria organização política dos Estados.

O Império Romano vulgarizara os mais nefandos processos de regeneração ou de vingança. Escravos ignorantes eram pasto das feras, nos divertimentos públicos, pelas faltas mais insignificantes nas casas dos patrícios. Só de uma vez, trinta mil desses servos, a quem se negava qualquer bem do espírito, foram crucificados numa festa, próximo aos soberbos aquedutos da Via Ápia. Os açoites humilhantes eram castigo suave.

Entretanto, desde a tarde em que Jesus se encontrou com a pecadora em frente da multidão, um pensamento novo entrou a dominar aos poucos o espírito do mundo. A substância evangélica do ensino inolvidável penetrou o aparelho judiciário de todos os povos. A sociedade começou a compreender suas obrigações e procurou segregar o criminoso, como se isola um doente, buscando auxiliar-lhe a reforma definitiva, por todos os meios ao seu alcance. Os menores delinqüentes foram amparados pelas numerosas escolas de regeneração. Todo o sistema da justiça humana evolveu para os princípios da magnanimidade, e os juízes modernos, lavrando suas sentenças, sem nunca haverem manuseado o Novo-Testamento, talvez ignorem, que procedem assim por ter sido Jesus o grande reformador da criminologia.

(“Boa Nova” de F C Xavier e Humberto de Campos)



Caminho, Verdade e Vida, capítulo 43 – “Consultas”;



"E na lei nos mandou Moisés que tais mulheres sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes?" - (JOÃO, 8:5.)



Várias vezes o espírito de má-fé cercou o Mestre, com interrogações, aguardando determinadas respostas pelas quais o ridicularizasse. A palavra dEle, porém, era sempre firme, incontestável, cheia de sabor divino.

Referimo-nos ao fato para considerar que semelhantes anotações convidam o discípulo a consultar sempre a sabedoria, o gesto e o exemplo do Mestre.

Os ensinamentos e atos de Jesus constituem lições espontâneas para todas as questões da vida.

O homem costuma gastar grandes patrimônios financeiros nos inquéritos da inteligência. O parecer dos profissionais do direito custa, por vezes, o preço de angustioso sacrifício.

Jesus, porém, fornece opiniões decisivas e profundas, gratuitamente. Basta que a alma procure a oração, o equilíbrio e a quietude. O Mestre falar-lhe-á na Boa Nova da Redenção.

Freqüentemente, surgem casos inesperados, problemas de solução difícil. Não ignora o homem o que os costumes e as tradições mandam resolver, de certo modo; no entanto, é indispensável que o aprendiz do Evangelho pergunte, no santuário do coração:

- Tu, porém, Mestre, que me dizes a isto?

E a resposta não se fará esperar como divina luz no grande silêncio.

(“Caminho, Verdade e Vida” de F C Xavier e Emmanuel)



Caminho, Verdade e Vida, capítulo 75 – “Na casas de César”;



"Todos os santos vos saúdam, mas principalmente os que são da casa de César" Paulo (Filipenses, 4:22)



Muito comum ouvirmos observações descabidas de determinados irmãos na crença, relativamente aos companheiros chamados a tarefas mais difíceis, entre as possibilidades do dinheiro ou do poder.

A piedade falsa esta sempre disposta a criticar o amigo que, aceitando laborioso encargo público, vai encontrar nele muito mais aborrecimentos que notas de harmonia. A análise desvirtuada tudo repara maliciosamente. Se o irmão é compelido a participar de grandes representações sociais, costuma-se estigmatiza-lo como traidor do Cristo.

É necessário despender muita vigilância nesses julgamentos.

Nos tempos apostólicos, os cristãos de vida pura eram chamados "santos". Paulo de Tarso, humilhado e perseguido em Roma, teve ocasião de conhecer numerosas almas nessas condições, e o que é mais de admirar - conviveu com diversos discípulos de semelhante posição, relacionados com a habitação palaciana de César. Deles recebeu atenções e favores, assistência e carinho.

Escrevendo aos filipenses, faz menção especial desses amigos do Cristo.

Não julgues, pois, a teu irmão pela sua fortuna aparente ou pelos seus privilégios políticos. Antes de tudo, lembra-te de que havia santos na casa de Nero e nunca olvides tão grandiosa lição.

("Caminho, Verdade e Vida" de F C Xavier e Emmanuel)



Cartas e Crônicas, capítulo 3 – “A petição de Jesus”;



... E Jesus, retido por deveres constrangedores, junto da multidão, em Cafarnaum, falou a Simão, num gesto de bênção:

- Vai, Pedro! Peço-te! ... Vai à casa de Jeremias, o curtidor, para ajudar. Sara, a filha dele, prostrada no leito, tem a cabeça conturbada e o corpo abatido. Vai sem delonga, ora ao lado dela, e o Pai, a quem rogamos apoio, socorrerá a doente por tuas mãos.

Na manhã ensolarada, pôs-se o discípulo em marcha, entusiasmado e sorridente com a perspectiva de servir. À tarde, quando o sol cedia as últimas posições à sombra noturna, vinha de retorno enunciando inquietação e pesar no rosto áspero.

- Ah! Senhor! - disse ao Mestre que lhe escutava os apontamentos - todo esforço baldado, tudo em vão! ...

- Como assim?

E o apóstolo explicou amargamente, qual se fora um odre de fel a derramar-se:

- A casa de Jeremias é um antro de perdição... Antes fosse um pasto selvagem. O abastado curtidor é um homem que ajuntou dinheiro, a fim de corromper-se. De entrada, dei com ele bebericando vinho num paiol, a cuja porta bati, na esperança de obter informações para demandar o recinto doméstico. Não parecia um patriarca e sim um gozador desavergonhado. Sentava-se na palha de trigo e, de momento a momento, colava os lábios ao gargalo de pesada botelha, desferindo gargalhadas, ao pé de serva bonita e jovem, que se refestelava no chão, positivamente embriagada... Ao receber-me, começou perguntando quantos piolhos trago à cabeça e acabou mandando-me ao primogênito... Saí à procura de Zoar, o filho mais idoso, e o achei, enfurecido, no jogo de dados em que perdia largas somas para conhecido traficante de Jope. Acolheu-me aos berros, explicando que a sorte da irmã não lhe despertava o menor interesse... Por fim, expulsou-me aos coices, dando a idéia de uma besta-fera solta no campo . Afastava-me, apressado, quando esbarrei com a dona da casa. Dei-lhe a razão de minha presença; contudo, antes de atender-me, passou a espancar esquelética menina, alegando que a criança lhe havia surrupiado um figo, enquanto a pequena chorosa tentava esclarecer que a fruta havia sido devorada por galos de estimação... Somente após ensangüentar a vítima, resolveu a megera designar o aposento em que poderia avistar-me com a filha enferma...

Ante o olhar melancólico do ouvinte, o discípulo prosseguiu:

- A dificuldade, porém, não ficou nisso... Visivelmente transtornada por bagatela, a velha sovina errou na indicação, pois entrei numa alcova estreita, onde fui defrontada por Josué, o filho mais moço do curtidor, que mergulhava a mão num cofre de jóias. Desagradavelmente surpreendido, fêz-se amarelo de raiva, acreditando decerto que eu não passava de alguém a serviço da família, a fim de espionar-lhe os movimentos. Quando ergueu o braço para esmurrar-me, supliquei-lhe considerasse a minha situação de visitante em missão de paz e socorro fraterno . Embora contrafeito, conduzindo-me ao quarto da irmã... Ah! Mestre, que tremenda desilusão!.. Não duvido de que se trata de uma doente, mas, logo me viu, a estranha criatura se tornou inconveniente, articulando gestos indecorosos e pronunciando frases indignas...Não agüentei mais... Fugi, horrorizado, e regressei pelo mesmo caminho.

Observando que o Amigo Sublime se resguardava, triste e silencioso, volveu Simão, após comprido intervalo:

- Senhor, não fui, acaso, bastante claro? Porventura, não terei procurado cumprir-te honestamente os desejos? Seria justo, Mestre, pronunciar o nome de Deus, ali, entre vícios e deboche, avareza e obscenidade?

Jesus, porém, depois de fitar longamente o céu, a inflamar-se de lumes distantes, fixou no companheiro o olhar profundamente lúcido e exclamou com serenidade:

- Pedro, conheço Jeremias, a esposa e os filhos, há muito tempo!... Quando te incumbi de ir ao encontro deles, apenas te pedi para auxiliar! .

(“Cartas e Crônicas” de F C Xavier e Irmão X)



Ceifa de Luz, capítulos 43 – “No exame recíproco”



“Consideremo-nos também uns aos outros para nos estimularmos ao amor e às boas obras.” – PAULO. (Hebreus 10:24.)



Algumas vezes somos constrangidos a examinar as diretrizes dos nossos companheiros de experiência, nas horas em que se mostram em atitude menos edificante.

Vimos determinados amigos em lances perigosos do caminho, até ontem. E até ontem terão eles:

entrado em negócios escusos;

caído em lastimáveis enganos;

perpetrado delitos;

descido a precipícios de sombra;

causado prejuízo a outrem, lesando a si mesmos;

fugido a deveres respeitáveis

desprezado valiosas oportunidades no erguimento do bem;

renegado a fé que lhes servia de âncora;

adotado companhias que lhes danificaram a existência;

abraçado a irresponsabilidade por norma de ação.

Momentos existem nos quais é impossível desconhecer as nossas falhas; entretanto, tenhamos a devida prudência de situar o mal no passado.

Teremos tido comportamento menos feliz até ontem.

Hoje, porém, é novo dia.

Auxiliemo-nos reciprocamente, acendendo luz que nos dissipe a sombra. Padronizemos o sentimento em ponto alto, pensemos coma força abençoada do otimismo, falemos para o bem e realizemos o melhor ao nosso alcance, no terreno da ação.

Recordemos o ensinamento do Apóstolo, considerando-nos uns aos outros, não em sentido negativo, e sim com a fraternidade operante, para que tenhamos o necessário estímulo à prática do amor puro, superando as nossas próprias fraquezas, em caminho para a Vida Maior.

(“Ceifa de Luz” de F C Xavier e Emmanuel)



Ceifa de Luz, capítulo 52 – “Em família espiritual”;



“Por que vês o argueiro no olho de teu irmão, sem notar a trave que está no teu próprio?” – JESUS. (Mateus, 7:3)



Quanto mais nos adentramos no conhecimento de nós mesmos, mais se nos impõe a obrigação de compreender e desculpar, na sustentação do equilíbrio em nós e em torno de nós.

Daí a necessidade da convivência, em que nos espelhamos uns nos outros, não para criticar-nos, mas para entender-nos, através de bendita reciprocidade, nos vários cursos de tolerância, em que a vida nos situa, no clima da evolução terrestre.

Assim é que, no educandário da existência, aquele companheiro:

que somente identifica o lado imperfeito dos seus irmãos, sem observar-lhes a boa parte;

que jamais se vê disposto a esquecer as ofensas de que haja sido objeto;

que apenas se lembra dos adversários com o propósito de arrasá-los, sem reconhecer-lhes as dificuldades e os sofrimentos;

que não analisa as razões dos outros, a fixar-se unicamente nos direitos que julga pertencer-lhe;

que não se enxerga passível de censura ou de advertência, em momento algum;

que se considera invulnerável nas opiniões que emita ou conduta que espose;

que não reconhece as próprias falhas e vigia incessantemente as faltas alheias;

que não dispõe a pronunciar uma só frase de consolação e esperança, em favor dos caídos na penúria moral;

que se utiliza da verdade exclusivamente para ameaçar ou ferir. . .

Será talvez de todos nós aquele que mais exija entendimento e ternura, de vez que, desajustado na intolerância, se mostra sempre desvalido de paz e necessitado de amor.

(“ Ceifa de Luz” de F C Xavier e Emmanuel)



Chão de Flores, “Dois pesos”;

 


MARTINS COELHO


Cousa estranha!... O meu defeito

Em mim é coisinha à toa,

Mas toma a forma de crime

Se o vejo noutra pessoa.

(“Chão de Flores” de F C Xavier e AUTORES DIVERSOS)



Comandos do amor, capítulo 19 – “Não julgues teu irmão”;



André Luiz



Amigo.

Examina o trabalho que desempenhas.

Analisa a própria conduta.

Observa os atos que te definem.

Vigia as palavras que proferes.

Aprimora os pensamentos que emites.

Pondera as responsabilidades que recebeste.

Aperfeiçoa os próprios sentimentos.

Relaciona as faltas em que, porventura, incorreste.

Arrola os pontos fracos da própria personalidade.

Inventaria os débitos em que te inseriste.

Sê o investigador de ti mesmo, o defensor do próprio coração, o guarda de tua mente.

Mas, se não deténs contigo a função do juiz, chamado à cura das chagas sociais, não julgues o irmão do caminho, porque não existem dos problemas, absolutamente iguais, e cada espírito possui um campo de manifestações particulares.

Cada criatura tem o seu drama, a sua aflição, a sua dificuldade e a sua dor.

Antes de julgar, busca entender o próximo e compadece-te, para que a tua palavra seja uma luz de fraternidade no incentivo do bem.

E, acima de tudo, lembra-te de que amanhã, outros olhos pousarão sobre ti, assim como agora a tua visão se demora sobre os outros.

Então, serás julgado pelos teus julgamentos e medido, segundo as medidas que aplicas aos que te seguem.

André Luiz

(“Comandos do Amor” de F C Xavier e espíritos diversos)



O Consolador, questões 64 e 65;



64 –Em face da lei dos homens, quando em presença do processo criminal, deve dar-se o voto condenativo, em concordância com o processo-crime, ou absolver o réu em obediência ao “não julgueis”?

-Na esfera de nossas experiências, consideramos que, à frente dos processos humanos, ainda quando as suas peças sejam condenatórias, deve-se recordar a figura do Cristo junto da pecadora apedrejada, pois que Jesus estava também perante um júri. “Quem estiver sem pecado atire a primeira pedra” – é a sentença que deveria lembrar, sempre, a nossa situação comum de Espíritos decaídos, para não condenar esse ou aquele dos nossos semelhantes. “Vai e não peques mais” – deve ser a nossa norma de conduta dentro do próprio coração, afastando-se a erva do mal que nele viceje. Nos processos públicos, a autoridade judiciária, como peça integrante da máquina do Estado no desempenho de suas funções especializadas, deve saber onde se encontra o recurso conveniente para o corretivo ou para a reeducação do organismo social, mobilizando, nesse mister, os valores de sua experiência e de suas responsabilidades. Individualmente, porém, busquemos aprender que se podemos “julgar” alguma coisa, julguemo-nos, sempre, em primeiro lugar, como o irmão mais próximo daquele a quem se atribui um crime ou uma falta, a fim de estarmos acordes com Aquele que é a luz dos nossos corações. Nas horas comuns da existência, procuremos a luz evangélica para analisar o erro e a verdade, discernir o bem e o mal; todavia, no instante dos julgamentos definitivos, entreguemos os processos A Deus, que, antes, de nós, saberá sempre o melhor caminho da regeneração dos seus filhos trabalhadores.

65 –O homem que guarda responsabilidade nos cargos públicos da Terra responde, no plano espiritual, pelas ordens que cumpre e faz cumprir?

-A responsabilidade de um cargo público, pelas suas características morais, é sempre mais importante que a concedida por Deus sobre um patrimônio material. Daí a verdade que, na vida espiritual, o depositário do bem público responderá sempre pelas ordens expedidas pela sua autoridade, nas tarefas da Terra.

(“O Consolador” de F C Xavier e Emmanuel)



Contos desta e doutra Vida, capítulo 27 – “Na vinha do Senhor”;



Instalado na casa modesta que seria, mais tarde, em Jerusalém, o primeiro santuário dos apóstolos, Simão Pedro refletia...

Recordava Jesus, em torno de quem havia sempre abençoado trabalho a fazer.

Queria ação, suspirava por tarefas a realizar e, por isso, orava com fervor.

Quando mais ardentes se lhe derramavam as lágrimas, com as quais suplicava do céu a graça de servir, eis que o Mestre lhe surge à frente, tão compassivo e sereno como nos dias inolvidáveis em que se banhavam juntos na mesma luz das margens do Tiberíades...

- Senhor! – implorou Simão – aspiro a estender-te as bênçãos gloriosas!... Deixei o lago para seguir-te! Disseste que nos farias pescadores de almas!... Quero testemunhar a divina missão do teu Evangelho de amor e luz!...

E porque o celeste visitante estivesse a fitá-lo em silêncio, Pedro acrescentou com a voz encharcada de pranto:

- Quando enviarás teu serviço às nossas mãos?

Entreabriram-se de manso os lábios divinos e o apóstolo escutou, enquanto Jesus se fazia novamente invisível:

- Amanhã...amanhã...

O antigo pescador, mais encorajado, esperou o dia seguinte.

Aguardando o mandato do Eterno Benfeitor,

Devotou-se à limpeza doméstica, desde o nascer do sol, enfeitando a sala singela com rosas orvalhadas do amanhecer.

Enlevado em doce expectativa, justamente quando se dispunha à refeição matutina, ensurdecedora algazarra atinge-lhe os ouvidos.

A porta singela, sob murros violentos, deixa passar um homem seminu, de angustiada expressão, enquanto lá fora bramem soldados e populares, sitiando o reduto.

O recém-chegado contempla Simão e roga-lhe socorro.

Tem lágrimas nos olhos e o coração lhe bate descompassado no peito.

O anfitrião reconhece-º

É Joachaz, o malfeitor.

De longo tempo, vem sendo procurado pelos agentes da ordem.

Exasperado, Pedro responde, firme:

- Socorrer-te porquê? Não passas de ladrão contumaz...

E, de ouvidos moucos à rogativa, convoca os varapaus, entregando o infeliz, que, de imediato, foi posto a ferros, a caminho do cárcere.

Satisfeito consigo mesmo, o apóstolo colocava a esperança na obra que seria concedido fazer, quando, logo após, perfumada liteira lhe entregou à presença triste mulher de faces maceradas a contrastarem com a seda custosa em que buscava luzir.

Pedro identificou-a.

Era Júlia, linda grego-romana que em Jerusalém se fazia estranha flor de prazer.

Estava doente, cansada.

Implorava remédio e roteiro espiritual.

O dono da casa, porém, gritou resoluto:

- Aqui, não! O teu lugar é na praça pública, onde todos te possam lançar em rosto o desprezo e a ironia...

A infortunada criatura afastou-se, enxugando os olhos, e Pedro, contente de si próprio,

Continuou esperando a missão do dia.

Algo aflito, ao entardecer, notou que alguém batia, insistente, à porta.

Abriu, pressuroso, caindo-lhe aos pés o corpo inchado de Jarim, o bêbado sistemático, semi-inconsciente, pedia refúgio contra a malta de jovens cruéis que o apedrejavam.

Pedro não vacilou.

- Borracho! Infame! – vociferou, revoltado – não ofendas o recinto do Mestre com o teu vômito!...

E, quase a pontapés, expulsou-o sem piedade.

Caiu a noite imensa sobre a cidade em extrema secura.

Desapontado, ao repetir as últimas preces, Simão meditava diante de tocha bruxuleante, quando o Mestre querido se destacou da névoa...

- Ah! Senhor! – clamou Pedro, chorando – aguardei todo o dia, sem que me enviasses a prometida tarefa!...

- Como não? – disse o Mestre, em tom de amargura. – Por três vezes roguei-te hoje cooperação sem que me ouvisses...

E ante a memória do companheiro que recordava e compreendia tardiamente, Jesus continuou:

De manhã, enviei-te Joachaz, desventurado irmão nosso mergulhado no crime, que o ajudasses a renovar a própria existência, mas devolveste-o à prisão... Depois do meio-dia, entreguei-te Júnia, pobre irmã dementada e doente, para que a medicasses e esclarecesses, em meu nome: contudo, condenaste-a ao vilipêndio e ao sarcasmo... À noitinha, mandei-te Jarim, desditoso companheiro que o vício ensandece; no entanto, arremeteste contra ele os próprios pés...

-Senhor! – soluçou o apóstolo – grande é a minha ignorância e eu não sabia... Compadece-te de mim e ajuda-me com a tua orientação!...

Jesus afagou-lhe a cabeça trêmula e falou, generoso:

- Pedro, quando quiseres ouvir-me, lembra-te de que o Evangelho tem a minha palavra...

Simão estendeu-lhe os braços, desejando retê-lo junto do coração, mas o Cristo Sublime como que se ocultava na sombra, escapando-lhe à afetuosa carícia...

Foi então que o ex-pescador de Cafarnaum, cambaleando, buscou os apontamentos que trazia consigo e, abrindo-os ao acaso, encontrou o Versículo 12, do Capítulo 9 das anotações de Mateus, em que o Mestre da Vida assevera, convincente:

-“Os sãos não precisam de médico, mas sim os doentes.”

(“Contos Destas e Doutra Vida” de F C Xavier e Irmão X)



Contos e Apólogos, capítulo 24 – “O aviso oportuno”;



– Não há maior alegria que a de doutrinar os Espíritos perturbados – dizia Noé Silva, austero orientador de antiga instituição destinada à caridade –, e não existe para mim lição maior que a dos campeões da mentira e da treva, quando desferem gritos de dor, ante a realidade.

Com a volúpia do pescador que recolhe o peixe, depois de longa expectativa, exclamava, gritante:

– Afinal de contas, outro destino não poderiam esperar os sacripantas do mundo, agarrados ao ouro e aos prazeres, senão os padecimentos atrozes da incompreensão, além da morte.

Sorrindo, triunfante, rematava:

– E, acima de tudo, devem agradecer a Deus a possibilidade de encontrarem a minha palavra sincera e clara.

Tenho bastante paciência para aturá-los e conduzi-los ara a luz.

Era assim o rígido mentor das sessões. Alma franca e rude, demasiadamente convencido quanto aos próprios méritos.

Mas, na vida comum, Noé Silva transformava a lealdade em vestimenta agressiva. Junto dele, respirava-se uma atmosfera pesada, como se estivesse repleta de espinhos invisíveis.

Analfabeto da gentileza, atirava os pensamentos que lhe vinham à cabeça qual se houvera recebido do Céu a triste missão de salientar os defeitos do próximo.

A palavra dele era uma chuva de seixos.

Se um companheiro demorava-se para a reunião, clamava, colérico:

– Que estará fazendo esse hipócrita retardatário?

Se um médium não conseguia recursos para interpretar, com segurança, as tarefas que lhe cabiam nos trabalhos de assistência, indagava, irritadiço:

– Que faltas terá cometido esse infeliz?

Se o condutor do ônibus parecia vacilar em certos momentos, bradava, impulsivo:

– Desgraçado, cumpra o seu dever!

Se o rapaz de serviço, no café, cometia qualquer leve deslize, protestava, exigente:

– Moço, veja lá onde tem a cabeça!... O senhor permanece aqui para servir...

Se alguém lhe trazia alguma confidência dolorosa, buscando entendimento e consolo, repetia, severo:

– Meu irmão, quem planta, colhe. Você não estaria sofrendo se não houvesse praticado o mal.

Na via pública, não hesitava. Se algum transeunte lhe impedia o passo rápido, dava serviço aos cotovelos e em seus trabalhos profissional era sobejamente conhecido pelas frases fortes com que despejava a sua vocação de fazer inimigos.

Se um irmão de ideal lhe exprobrava o procedimento, respondia, célere:

– Se essa gente não puder entender-me as boas intenções, esperá-la-ei nas minhas preces. Depois da morte, todas as pessoas compreendem a verdade...

O tempo rolava, infatigável, quando, no vigésimo aniversário do agrupamento que dirigia, um dos orientadores desencarnados se manifesta, em sinal de regozijo, felicitando a todos.

Um carinho aqui, um abraço ali, o amigo espiritual confortava os presentes, mas, em se despedindo sem dizer palavra ao mentor da casa, Noé, desapontado, perguntou, ansiosamente:

– E para mim, meu irmão, não há qualquer mensagem?

O visitante sorriu e falou, bem humorado:

– Tenho sim, tenho um recado para o seu coração.

Não espere a morte para extinguir os desafetos. Cultive a plantação da simpatia, desde hoje. A nossa fé representa a Doutrina do Amor e a cordialidade é o princípio dela. Não se esqueça do verbo silencioso do bom exemplo, das lições de renúncia e dos ensinamentos vivos com adequadas demonstrações. Se você estima o Espiritismo prático, não olvide o Espiritismo praticado. Você está sempre disposto a doutrinar os ignorantes e os infelizes do Espaço, mas está superlotando o seu espaço mental com adversários que esperam gostosamente o tempo de doutriná-lo.

E num gesto de carinhosa fraternidade, rematou em seguida a pequena pausa:

– Noé, esvazie o cálice de fel, desde agora; diminua a reprovação e reduza a extensão do espinheiral...

O nosso problema, meu caro, é o de não encher...

A sessão foi encerrada.

E enquanto os companheiros permutavam expressões de Júbilo, o arrojado doutrinador, com a cabeça mergulhada nas mãos, permaneceu sozinho, sentado á mesa, pensando, pensando...

(“Contos e Apólogos” de F C Xavier e Irmão X)



Deus aguarda, capítulo “Deus é amor”;



Jamais condenes.

Deus é, sobretudo, amor.

Em arena vasta do Plano Espiritual, achava-se um homem desencarnado em julgamento.

O mentor indicado para instruí-lo, quanto ao que lhe cabia fazer, a fim de regenerar-se, passou a encontrar muita dificuldade para desincumbir-se dos próprios encargos.

Acontece que o recinto das advertências fora invadido por enorme turba de acusadores.

Esse apontava o infeliz, na condição de celerado que lhe havia aniquilado a família no mundo; aquele mostrava-lhe os punhos cerrados, prometendo-lhe vingança pelos males de que fora vitima; outro pedia para ele a pior sentença; e outras entidades, incluindo mulheres desventuradas, dirigiam-lhe frases cruéis.

Então, o orientador indagou do réu se não lembrava, por si mesmo, algum bem que havia feito. Não teria, porventura, auxiliado em favor de alguma criança perdida ou amparado a essa ou aquela viúva sem ninguém? Nunca se aproximara de um mendigo doente, buscando reduzir-lhe as necessidades? Acaso, não haveria socorrido algum animal apedrejado ou protegido alguma fonte?

O infortunado companheiro revelou ansiedade e amargura nos olhos, a engolirem as próprias lagrimas, e respondeu pela negativa, confessando ainda que impusera a morte a sua própria mãe, com certeira punhalada, de modo a furtar-lhe as ultimas jóias escondidas num jirau.

Foi aí que a massa de escarnecedores se desmandou em gritaria.

O mentor recomendou mais ordem novamente e já se preparava a solicitar o parecer de orientadores domiciliados em planos mais altos, quando nobre mulher, de aparência simples, mas nimbada de luz, penetrou o salão e explicou-se em alta voz:

- Senhor juiz, manda a verdade seja dito que este homem proporcionou imensa alegria a uma filha de Deus, assim que todos somos. Ele foi a esperança e o sonho, a felicidade e a força que lhe acalentaram a vida...

- Ainda assim – ponderou o magistrado –terá ele de amargar longo período de provas, encarcerado num corpo disforme, entre as criaturas da Terra.

Ela, porém, aclarou com humildade:

- Compreendo que a justiça deve exercer-se, em auxilio a nos todos. Essa mulher, no entanto, o abençoará e acompanhará seja onde for... Lutará por ele e chorara de dor e de alegria, até que a beleza com que Deus o criou lhe brilhe na face por bendita luz....

O Juiz, admirado, volto a perguntar-lhe:

- Senhora, quem sois vós que defendeis assim um celerado?

A dama não declinou a própria condição, mas encaminhou-se para o réu, abraçou-o e beijou-lhe o rosto de que os demais se afastavam com asco... Em seguida, ergueu a fronte e, contemplando a assembléia espantada, proclamou enternecida:

- Declaro, perante Deus, que ele é meu filho.

(“Deus Aguarda” de F C Xavier e Meimei)



Encontro Marcado, capítulo 22 – “A face oculta”;



Tema – Necessidade da compaixão em qualquer julgamento

Viste o malfeitor que a opinião pública apedrejava e anotaste os comentários ferinos de muita gente... Ele terá sido mostrado nas colunas da imprensa por celerado invulgar de que o mundo abomina a presença; entretanto, alguém lhe estudou a face esquecida de sofredor e observou que ninguém, até hoje, lhe ofertou na existência o mínimo ensejo de ser amado, a fim de acordar para o serviço do bem.

Soubeste que certa mulher caiu em desequilíbrio, diante de círculos sociais que fizeram pesar sobre ela a própria condenação... Alguém, todavia, lhe enxergou a face oculta e leu nela, inscrita a fogo de aflição, a história das lutas terríveis que a acusada sustentou com a necessidade, sem que ninguém lhe estendesse mãos amigas, nas longas noites de tentação.

Percebeste a diferença do companheiro que se afastou do trabalho de burilamento moral em que persistes, censurado por muitos irmãos inadvertidamente aliados a todos os críticos que o situam entre os tipos mais baixos de covardia... Alguém, contudo, analisou-lhe a face ignorada, mil vezes batida pelas pancadas da ingratidão, e verificou que ninguém apareceu nos dias de angústia para lenir-lhe o coração, ilhado no desespero.

Tiveste notícia do viciado, socorrido pela polícia, e escutastes os conceitos irônicos daqueles que o abandonaram à própria sorte... No entanto, alguém lhe examinou a face desconhecida de criatura a quem se negou a bênção do trabalho ou do afeto e reconheceu que ninguém o ajudou a libertar-se da revolta e da obsessão.

Quando estiveres identificando as chagas do próximo, recorda que alguém está marcando as causas que as produziram.

Esse alguém é o Senhor que vê o que não vemos.

Onde o mal se destaque, faze o bem que puderes.

Onde o ódio se agite, menciona o amor.

Em toda parte, e acima de tudo, pensemos sempre na infinita misericórdia de Deus, que reserva apenas um Sol para garantir a face clara da Terra, durante as horas de luz, em louvor do dia, mas acende milhares de sóis, em forma de estrelas, para guardar a face obscura do Planeta, durante as horas de sombra, em auxílio da noite, para que ela jamais se renda, ao poder das trevas.

(“ Encontro marcado“de F C Xavier e Emmanuel)



Esperança e Luz, capítulo “Confissão”;



Revendo as falhas que tenho

Das mais diversas e feias,

É que tenho tanto empenho

Em ver as falhas alheias.

Tantas vezes, vivo errada!...

Senhor, guarda-me no Bem.

Também eu caio na estrada,

Não posso julgar ninguém.

Maria Dolores

(“Esperança e Luz” de F C Xavier e espíritos diversos)



Escultores de almas, capítulo “Na escola da vida”;



E alma confrangida, observas os semelhantes, considerados na Terra em falta e culpa maiores do que as nossas.

De muitos deles, tens notícias que assombram e sabes de outros muitos, positivamente estirados na delinqüência.

Agitam-se alguns por ignorância, sob as tenazes do crime.

Vários conhecem que amargas conseqüências recolherão, mais tarde, e apesar disso, rendem-se inermes, às garras da tentação.

Declaram-se outros adeptos da virtude e rolam na crueldade.

E outros, ainda, que te animavam a fé, permanecem na retaguarda entregues ao desespero...

Junto deles, há quem diga que são almas emperdenidas.

E há quem diga que são feras em forma humana.

Entretanto, ainda mesmo te arroles entre as vítimas, carregando o peito dilacerado, não ergas a voz para persegui-los. Estão marcados em si mesmos pelo remorso, que trazem no espírito, por prato de brasas vivas.

Não é necessário te aproximes para vergastá-los ou para zurzir-lhes a carne.

Além de sitiados na dor do arrependimento, quase sempre transitam em cárceres de amargura ou repontam exilados do carinho doméstico, sorvendo lágrimas de aflição.

Em lugar de fel e desprezo, dá-lhes amor e esperança, a fim de que despertem a vontade entorpecida para o campo do bem.

Diante de todos eles, nossos irmãos enganados na sombra, abençoa e ora... E, se te agridem, desvairados e inconscientes, abençoa e ora de novo, na certeza de que Deus a ninguém abandona e ainda mesmo para os filhos mais infelizes, providenciará reajuste, através da reencarnação, que é a escola da vida, a levantar-se, divina, da Terra então transformada, em bendito colo de mãe.

Emmanuel

(“Escultores de Almas” de F C Xavier e espíritos diversos)



O Espírito da Verdade, capítulo 23 – “No reino da ação”;



André Luiz

Não condene.

Ajude ao outro.

Cultive serenidade.

Use os propósitos recursos para fazer o bem.

Proceda com bondade, sem exibição de virtude.

Seja qual for o problema, faça o melhor que você puder.

Não admita a supremacia do mal.

Fuja de todo pensamento, palavras atitudes ou gesto Que possam agravar as complicações de alguém.

Ouça com paciência e fale amparando.

Recorde que você amanhã, talvez esteja precisando também de auxilio e, em toda situação indesejável que o Próximo demonstre necessidade de reprimenda, observe Conforme a lição de Jesus, se você em condições de Atirar a pedra.

(“O Espírito da Verdade” de F C Xavier, W Vieira e espíritos diversos)



O Essencial, capítulo “Julgamentos”;



Se alguém te surge em erro


Tranquiliza-te e cala.

Não sabes o princípio

Dos fatos que registras.

Quanta dor na criatura

Antes de haver caído!...

Se vês a falta alheia,

Usa a misericórdia.

Virtude que condena

É orgulho disfarçado.

Hoje, podes julgar...

Amanhã, ninguém sabe.

(“O Essencial” de F C Xavier e Emmanuel)



Fonte Viva, capítulo 113 – “Busquemos o melhor”;



"Por que reparas o argueiro no olho de teu irmão?" - Jesus. MATEUS,7:3



A pergunta do Mestre, ainda agora, é clara e oportuna.

Muitas vezes, o homem que traz o argueiro num dos olhos traz igualmente consigo os pés sangrando. Depois de laboriosa jornada na virtude, ele revela as mãos calejadas no trabalho e tem o coração ferido por mil golpes da Ignorância e da inexperiência.

É imprescindível habituar a visão na procura do melhor, a fim de que não sejamos ludibriados pela malícia que nos é própria.

Comumente, pelo vezo de buscar bagatelas, perdemos o ensejo das grandes realizações.

Colaboradores valiosos e respeitáveis são relegados à margem por nossa irreflexão, em muitas circunstâncias simplesmente porque são portadores de leves defeitos ou de sombras insignificantes do pretérito, que o movimento em serviço poderia sanar ou dissipar.

Nódulos na madeira não impedem a obra do artífice e certos trechos empedrados do campo não conseguem frustrar o esforço do lavrador na produção da semente nobre.

Aproveitemos o irmão de boa-vontade, na plantação do bem, olvidando as insignificâncias que lhe cercam a vida.

Que seria de nós se Jesus não nos desculpasse os erros e as defecções de cada dia?

E, se esperamos alcançar a nossa melhoria, contando com a benemerência do Senhor, por que negar ao próximo a confiança no futuro?

Consagremo-nos à tarefa que o Senhor nos reservou na edificação do bem e da luz e estejamos convictos de que, assim agindo, o argueiro que incomoda o olho do vizinho, tanto quanto a trave que nos obscurece o olhar se desfarão espontaneamente restituindo-nos a felicidade e o equilíbrio,através da incessante renovação.

(“Fonte Viva” de F C Xavier e Emmanuel)



Histórias e Anotações, capítulo 11 – “Sinceramente”;



Diz você que é necessário inflamar a lâmina da crítica, em fogo de combatividade, para expulsar os vendilhões dos templos do Espiritismo e, exaltadamente, repete a palavra “conspurcação”, a cada trecho de sua carta, como se apenas encontrasse, em torno dos próprios passos, malfeitores e ladrões.

Nesse afã de julgar e sentenciar, você se reporta à impressões de oitiva sobre determinados companheiros, descobrindo-lhes, desapiedadamente, as cicratizes, à maneira de um santo convertido em juiz de consciências alheias.

E promete devassar a vida pública e privada de pessoas respeitáveis, imcompreensivelmente indignado em nome do Mestre da Cruz.

Mas, examinando os propósitos que você mesmo traz À nossa consideração, seria justo movimentar semelhantes golpes, em nome da caridade?

Seu zelo relaciona fraquezas e desventuras de irmãos nossos, aos quais você, se pudesse, deserdaria de todos os benefícios da proteção divina, a pretexto de preservar a pureza doutrinária.

Mas, se o Cristo, cuja inspiração procuramos para os destinos de nossa fé, nunca se afastou dos transviados e dos enfermos, por que razão se recolheria o Espiritismo, num círculo de eleitos, sem qualquer vantagem para a nossa extensa coletividade dos sofredores a que nossa bandeira veio servir? Onde colocaríamos o nosso programa de regeneração fugindo aos mais necessitados? E se vamos condenar aquele que hoje procura acertar o próprio caminho, onde situar a doutrina de amor que pretendemos estender, na Terra, em favor do próximo?

Se estamos interessados na recuperação humana com Jesus, é preciso lembrar que não sustentaremos a ordem de um edifício, atirando-lhes pedradas.

A cultura da fé assemelha-se à lavoura comum.

Para salvar um espécime entre milhares, ninguém se aventuraria a ameaçar a plantação inteira.

E, ainda para defender um simples arbusto – se é que nos propomos realmente defende-lo – não concretizaremos qualquer auxílio ao preço da violência.

O sarcasmo não constrói, tanto quanto o vinagre não mata a sede.

Uma doutrina religiosa é serviço de educação das almas.

O Espiritismo não pode escapar à regra.

Dispomos no Brasil de mais de quinhentos mil espíritas confessos, mas poderíamos alimentar a vaidade de contar com meio milhão de heróis?

Sabemos que, entre as legiões dos companheiros de boa vontade, temos vastas fileiras de doentes, obsedados e aflitos... Declara-se você, contudo, disposto a guerrear os expositores da Doutrina que, segundo suas afirmativas, não cumprem o que ensinam.

Entretanto, estará você suficientemente seguro, quanto às alheias consciências, ao ponto de aprecia-las, com exatidão, pela superfície?

Quantas árvores, desagradáveis pelo acúleos da epiderme, sustentam as fontes preciosas do mundo? Quantos cais, aparentemente enlameados, defendem povoações e cidades contra a fúria do mar?

Não nos consta a existência de alguma ordem de Jesus recomendando-nos a instalação de tribunais para a censura a irmãos, em experiências diversas da nossa; no entanto, não ignoramos que o Mestre nos exortou ao serviço do amor, em todas as circunstâncias...

Atravessada a fronteira da morte do corpo, se nos mantemos efetivamente despertos para o desempenho dos deveres que nos cabem, ante as Leis Superiores, uma compreensão mais humana nos aclara o espírito e, dentro dela, meu caro, não há lugar para a ironia ou o fel.

O sentimento de nossa pequenez impõe-nos a obrigação de cooperar no bem de todos, a fim de que nos não falte auxílio no crescimento para a Vida Eterna.

Acreditando, assim, que você nos escreve com sinceridade, devo afirmar-lhe, sinceramente, que não posso concordar com a sua cruzada de reprovações públicas.

O tempo é uma dádiva do Senhor, com a qual necessitamos aprender a semear e a construir com o bem.

È possível que outrem lhe diga de minha incapacidade para corrigir, por ter errado muito, por minha vez, na Terra.

Outros dirão que não passo de um espírito perturbado, em razão de meus distúrbios intelectuais no mundo.

Não nego a minha condição de enfermo em reajuste.

Sou um pecador, trabalhando para não alongar a relação de minhas próprias faltas. Mas, no fundo, não posso prestigiar a sua campanha de crítica e de condenação porque eu sou um homem desencarnado, e porque você é um homem que vai morrer.

(“Histórias e Anotações” de F C Xavier e Irmão X)



Hoje, capítulo 17 – “Imagens”;



Assunto já esmerilhado por muitos pensadores: a força das imagens.

Entretanto, é justo simplificá-lo para nosso próprio benefício.

É sabido que o pensamento é vida. E, sendo vida, é corrente de energias criadoras, gerando formas e realizações.

Em razão disso, estamos quase sempre influenciados ou dominados por aquilo que nós mesmos pensamos.

Habitualmente, na Terra, vemos um companheiro despendendo fortunas em determinados empreendimentos e, às vezes, julgamo-lo muito rico e sovina, em se tratando de beneficência.

Verificada a realidade, em muitos episódios, ele não passa de um homem corajoso e interessado em criar emprego para os outros, empenhado em erguer vasta colmeia de trabalho, em auxílio aos semelhantes, à base de financiamentos e empréstimos que lhe custam enormes sacrifícios.

Notamos um rapaz bem-posto, passando à porta, de braços com uma menina simpática, em certos horários, repetidos em horas certas. E, com freqüência, imaginando-os unidos, à procura de recanto indicado ao prazer dos sentidos.

Chegando, porém, à verdade, informamo-nos que são eles uma jovem abnegada, conduzindo o irmão quase cego pelo tratamento.

Isso, no mundo, é o que geralmente ocorre.

Na maioria das ocasiões, pensamos que os outros pensam de nós aquilo que pensamos deles.

Eis porque só a idéia do bem a sustentar-nos o espírito é capaz de renovar-nos por dentro, auxiliando-nos a evitar julgamentos preconcebidos, susceptíveis de atirar-nos em frustração e arrependimento, quando venham a surgir as horas da realidade, no relógio do tempo.

À vista do que expomos, tenhamos a coragem precisa de instalar a supremacia do bem no campo de nossas tendências e opiniões, porquanto, unicamente pelo trabalho do bem, atingiremos a paz de quem se vê constantemente desejando a felicidade, sem mentalizar o mal para ninguém.

(“Hoje” de F C Xavier e Emmanuel)



Ideal Espírita, capítulo 24 – “No serviço assistencial”;



André Luiz

Desista de brandir o açoite da condenação sobre aspectos da vida alheia.

Esqueça o azedume da ingratidão em defesa da própria paz.

Não pretenda refazer radicalmente a experiência do próximo a pretexto de auxilia-lo.

Remova as condições de vida e os objetos de uso pessoal, capazes de ambientar a humilhação indireta.

Evite categorizar os menos felizes à conta de proscritos à fatalidade do sofrimento.

Não espere entendimento e ponderação do estômago vazio.

Aceite de boamente os pequeninos favores com que alguém procure retribuir-lhe os sinais de fraternidade e as lembranças singelas.

Seja prodígio em atenções para com o amigo em prova maior que a sua, desfazendo aparentes barreiras que possam surgir entre ele e você.

Conserve invariável clima de confiança e alegria ao contato dos companheiros.

Não recuse doar afeto, comunicabilidade e doçura, na certeza de que a violência é inconciliável com a bênção da simpatia.

Sustente pontualidade em seus compromissos e jamais demonstre impaciência ou irritação.

Dispense intermediários nas tarefas mais simples e, cumpra o que prometer.

Mantenha uniformidade de gentileza em qualquer parte, com todas as criaturas.

Recorde que o auxílio inclui bondade e humildade, lhaneza e solidariedade para ser não somente alegria e reconforto naquele que dá e naquele que receber, mas também, segurança e felicidade na senda de todos.

(“Ideal Espírita” - Psicografia Francisco C. Xavier - Espíritos Diversos)



Jesus no Lar, capítulo 10 – “O juiz reformado”;



Como houvesse o Senhor recomendado nas instruções do dia muita cautela no julgar, a conversação em casa de Pedro se desdobrava em derredor do mesmo tema.

— É difícil não criticar — comentava Mateus, com lealdade —, porque, a todo instante, o homem de mediana educação é compelido a emitir pareceres na atividade comum.

— Sim — concordava André, muito franco —, não é fácil agir com acerto, sem analisar detidamente.

Depois de vários depoimentos, em torno do direito de observar e corrigir, interferiu Jesus sem afetação: — Inegavelmente, homem algum poderá cumprir o mandato que lhe cabe, no plano divino da vida, sem vigiar no caminho em que se movimenta, sob os princípios da retidão.

Todavia, é necessário não inclinar o espírito aos desvarios do sentimento, para não sermos vitimados por nós mesmos.

Seremos julgados pela medida que aplicarmos aos outros.

O rigor responde ao rigor, a paciência à paciência, a bondade à bondade...

E, transcorridos alguns instantes, contou: — Quando Israel vivia sob o governo dos grandes juízes, existiu um magistrado austero e violento, em destacada cidade do povo escolhido, que imprimiu o terror e a crueldade em todos os serventuários sob a sua orientação.

Abusando dos poderes que a lei lhe conferia, criou ordenações tirânicas para a punição das mínimas faltas.

Multiplicou infinitamente o número dos soldados, edificou muitos cárceres e inventou variados instrumentos de flagelação.

O povo, asfixiado por estranhas proibições, devia movimentar-se debaixo de severa fiscalização, qual se fora rebanho de bravios animais.

Trabalharia, descansaria e adoraria o Senhor, em horas rigorosamente determinadas pela autoridade, sob pena de sofrer humilhantes castigos, nas prisões, com pesadas multas de toda espécie.

Se bem mandava o juiz, melhor agiam os subordinados, cheios de natural malvadez.

Assim foi que, certa feita, dirigindo-se o magistrado, alta noite, à casa de um filho enfermo, foi aprisionado, sem qualquer consideração, por um grupo de guardas bêbedos e inconscientes que o conduziram a escura enxovia que ele mesmo havia inaugurado, semanas antes.

Não lhe valeram a apresentação do nome e as honrosas insígnias de que se revestia.

Tomado por temível ladrão, foi manietado, despojado dos bens que trazia e espancado sem piedade, afirmando os sentinelas que assim procediam, obedecendo às instruções do grande juiz, que era ele próprio.

Somente no dia imediato foi desfeito o equívoco, quando o infeliz homem público já havia sofrido a aplicação das penas que a sua autoridade estabelecera para os outros.

O legislador atribulado reconheceu, então, que era perigoso transmitir o poder a subalternos brutalizados e ignorantes, percebendo que a justiça construtiva e santificante é aquela que retifica ajudando e educando, na preparação do Reinado do Amor entre os homens.

Desde a singular ocorrência, a cidade adquiriu outro modo de ser, porque o juiz reformado, embora prosseguisse atento às funções que lhe competiam, ergueu, sobre o tribunal, a benefício de todos, o coração de pai compreensivo e amoroso.

Lá fora, brilhavam estrelas, retratadas nas águas serenas do grande lago.

Depois de longa pausa, o Mestre concluiu: — Somente aquele que aprendeu intensamente com a vida, estudando e servindo, suando e chorando para sustentar o bem, entre os espinhos da renúncia e as flores do amor, estará habilitado a exercer a justiça, em nome do pai.

(“Jesus no Lar “ de F C Xavier e Neio Lúcio)



Nascer e renascer, capítulo “Julgamento menor”;



Não olvides que, antes do Julgamento Maior, que vergasta o corpo das civilizações, alterando, muita vez, a golpes de sangue e lágrimas, o destino das nações e dos povos, usufruímos todos, pela Misericórdia Divina, o privilégio do Julgamento Menor, a cujas decisões nos expomos todos os dias.

Referimo-nos ao renascimento na vida física, coma a prerrogativa de recapitular e reaprender.

Aí dentro, nos círculos da reencarnação, encontramo-nos, de novo, à frente da lição, no reajuste dos próprios erros.

Nosso berço, no Plano Físico, por isso mesmo, na maioria das circunstâncias, surge no campo de nossos adversários, para que venhamos a reencontrar nos elos consangüíneos os nossos credores do pretérito para a quitação das dívidas que nos ensombram a consciência.

Nessa fase de trabalho, a Terra, com o corpo que nos detém, toma feição de tribunal, em cujas celas somos provisoriamente detidos para criar atenuantes às nossas culpas, quando não possamos extingui-las de todo, a preço de abnegação e sacrifício.

(“Nascer e Renascer” de F C Xavier e Emmanuel)



Palavras de Vida Eterna, capítulo 40 - “Enquanto podes”;



“Tu, porém, por que julgas teu irmão ? e tu, por que desprezas o teu ? pois todos compareceremos perante o Tribunal de Cristo”. PAULO (ROMANOS, 14:10.)



Constrangido a examinar a conduta do companheiro, nessa ou naquela circunstância difícil, não lhe condenes os embaraços morais.

Lembra-te dos dias de cinza e pranto em que o Senhor te susteve a queda a poucos milímetros da derrota.

Não te acredites a cavaleiro dos novos problemas que surgirão no caminho ...

Todo serviço incompleto, que deixaste na retaguarda, buscar-te-á, de novo, o convívio para que lhe ofereças acabamento. E o remate legal de todas as nossas lutas pede o fecho do Amor puro como selo da Paz Divina.

As pedras que arremessaste ao telhado alheio voltarão como tempo sobre o teto em que te asilas, e os venenos que destilastes sobre a esperança dos outros tornarão,no hausto da vida, ao clima de tua própria esperança, testando-te a resistência.

Aprende, pois, desde hoje, a ensaiar tolerância e entendimento, para que o remédio por ti mesmo encomendado às mãos do “agora” não te amargue a existência, destruindo-te o coração.

Toda semente produz no solo do tempo e as almas imaculadas não povoam ainda a Terra.

Distribui, portanto, a paciência e a bondade com todos aqueles que se enganaram sob a neblina do erro, para que te não faltem a paciência e a bondade do irmão a que te arrimarás no dia em que a sombra te ameace o campo das horas.

Auxilia, enquanto podes.

Ampara, quanto possas.

Socorre, quanto possível.

Alivia, quanto puderes.

Procura o bem, seja onde for.

E, enquanto podes, desculpa sempre, porque ninguém fugirá do exato julgamento na eterna lei.

(“Palavras de vida eterna” de F C Xavier e Emmanuel)



Palavras de Vida Eterna, capítulo 76 – “Socorramos”;



“...Com a medida com que tiverdes medido vos hão de medir.” –Jesus. (Mateus, 7:2.)



Decerto observarás , em toda parte, desacordos, desentendimentos, desajustes, discórdias...

Junto do próprio coração, surpreenderás os que parecem residir em regiões morais diferentes. Entes amados desertam da estrada justa, amigos queridos abraçam perigosas experiências.

Como ajudar aos que nos parecem mergulhados no erro?

Censurar é fazer mais distância, desprezá-los será perdê-los.

É imprescindível saibamos socorrê-los, através do bem efetivo e incessante.

Para começar, sintamo-nos na posição deles, a comungar-lhes a luta.

Situemo-nos aos pés dos problemas em que se encontram e atendamos à prestação do serviço silencioso.

Se aparece oportunidade, algo façamos para testemunhar-lhes apreço.

No pensamento, guardemo-los todos em vibrações de entendimento e carinho.

Na palavra, envolvamo-los na benção do verbo nobre.

Na atitude, amparemo-los quanto seja possível.

Em todo e qualquer processo de ação, fortalecê-los para o bem é o nosso dever maior.

À frente, pois, daqueles que se te afiguram desnorteados, estende o coração e as mãos para auxiliar, porque todos estamos no caminho da evolução e, segundo a assertiva do nosso Divino Mestre, "com a medida com que tivermos medido nos hão de medir a nós".

(“Palavras de vida eterna” de F C Xavier e Emmanuel)



Palavras de Vida Eterna, capítulo 99 – “Reclamações”;



“Portanto, aquele que sabe que deve fazer o bem e não o faz, nisso esta pecando”.(TIAGO, 4:17.)



Censuras com grande alarde os que se oneraram, nos delitos do furto; entretanto, se acumulas, inutilmente, os recursos necessários ao sustento do próximo, não podes alegar inocência.

Acusas os que desceram à criminalidade, mas, se nada realizas pela extinção da delinqüência, não te cabe o direito de reprovar.

Apontas o egoísmo dos governantes; no entanto se te afervoras no egoísmo dos dirigidos, deitas apenas conversa vã.

Criticas todos aqueles que instruem os seus irmãos de maneira deficiente; contudo, se dispões de competência e foges ao plantio da educação, não estarás tranqüilo contigo mesmo.

Clamas contra aqueles companheiros que categorizas por rebeldes e viciados, quando lhes anotas a presença no trabalho de socorro aos semelhantes; todavia, se te sentes virtuoso e não levantas se quer uma palha em favor dos que sofrem, as sentenças que te saem da boca não passarão de injustiça.

Entra no serviço da alma e coração, para que possas comentá-lo.

Ninguém pode exigir dos outros o que não dá de si mesmo.

Quem sabe o que deve fazer, e não faz, deserta dos deveres que lhe competem, caindo em omissão lamentável, e, se atrapalhar quem procura fazer, certamente responderá com dobradas obrigações pelo que não fizer.

(“Palavras de Vida Eterna” de F C Xavier e Emmanuel)



Palavras de Vida Eterna, capítulo 112 – “Diante da justiça”;



“...Se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus.” – Jesus. (MATEUS, 5:20.)



Escribas e fariseus assumiam atitudes na pauta da Lei Antiga.

Olho por olho, dente por dente.

Atacados, devolviam insulto.

Perseguidos, revidavam, cruéis.

Com Jesus, porém, a justiça fez-se a virtude de conferir a cada qual o que lhe compete, segundo a melhor consciência.

Ele mesmo começou por aplicá-la a si próprio.

Enredado nas trevas pela imprudência de Judas, não endossa condenação ou desforço.

Abençoa-o e segue adiante, na certeza de que o amigo inconstante já carregava, consigo mesmo, infortúnio suficiente para chorar.

Ainda assim, porque o Mestre nos haja ensinado o amor sem lindes, isso não significa que os discípulas do Evangelho devam caminhar sem justiça, na esfera das próprias lutas.

Apenas é forçoso considerar que, no padrão de Jesus, a justiça não agrava os problemas do devedor, reconhecendo-lhe, ao invés disso, as necessidades que o recomendam à compaixão, sem furtar-lhe as possibilidades de reajuste.

Se ofensas, pois, caírem-te na alma, compadece-te do agressor e prossegue à frente, dando ao mundo e à vida o melhor que possas.

Aos que tombam na estrada, basta o ferimento da queda; e aos que fazem o mal, chega o fogo do remorso a comburir-lhes o coração.

(“Palavras de Vida Eterna” de F C Xavier e Emmanuel)



Palavras de Vida Eterna, capítulo 173 – “Rixas e queixas”;



“De uma só boca procede bênção e maldição. Meus irmãos, não é conveniente que estas cousas sejam assim”.(TIAGO, 3:10)



Julgamos comumente que os problemas de justiça apenas se manifestam, quando questões graves nos lavam a tribunal.

Justiça, porém, é assunto palpitante de todos os dias e, a cada hora, precisamos dela para a garantia da paz, quanto necessitamos de ar para a sustentação da existência.

Nos mínimos atos, usamos justiça para assegurar a harmonia geral.

Conhecemos a significação do lugar que ocupamos numa fila simples e sabemos respeitá-lo para a conservação da ordem.

Todos estamos acordes em obedecer, espontaneamente, aos preceitos do trânsito, conformando-nos às paradas indispensáveis para segurança da via pública.

Não ignoramos a obrigação de acatar as advertências que regem o emprego da energia elétrica em aparelho determinado, a fim de que não venhamos a comprometer a integridade doméstica.

Em sã consciência, ninguém desdenhará os direitos do vizinho, se não deseja os seus próprios direitos menosprezados.

Lembramo-nos de semelhantes imagens do cotidiano para recordar que em nossas indisposições e ressentimentos, há que pensar igualmente na tranqüilidade dos outros, de todos aqueles que nos partilham a experiência diária, a fim de que não venhamos a furtar-lhes a esperança e a coragem, golpeando-lhes o ânimo e conturbando-lhes o serviço.

Evitemos rixas e queixas.

Para resguardar o equilíbrio da vida coletiva e da vida caseira, atendemos a instruções e sinais, regulamentos e avisos, baseados na experiência dos homens, e para imunizar-nos a vida íntima contra distúrbios e prejuízos concedeu-nos a Divina Providência o controle do pensamento e o governo da língua.

(“Palavras de Vida Eterna” de F C Xavier e Emmanuel)



Palavras de Vida Eterna, capítulo 179 – “Discernir e corrigir”;



“... com o critério com que julgardes sereis julgados; e com a medida com que tiverdes medido vos medirão também”. – Jesus (MATEUS, 7:2)



Viste o companheiro em necessidade e comentaste-lhe a posição...

Possuía ele recursos expressivos e, talvez por imprevidência, caiu em penúria dolorosa...

Usufrui conhecimentos superiores e feriu-te a sensibilidade por arrojar-se em terríveis despenhadeiros do coração que, às vezes, os últimos dos menos instruídos conseguem facilmente evitar...

Detinha oportunidades de melhoria, com as quais milhares de criaturas sonham debalde e procedeu impensadamente, qual se não retivesse as vantagens que lhe brilham nas mãos...

Desfruta ambiente distinto, capaz de guindá-lo às alturas e prefere desconhecer as circunstâncias que o favorecem, mergulhando-se na sombra das atitudes negativas...

Mantinha valiosas possibilidades de elevação espiritual, no levantamento de apostolados sublimes, e emaranhou-se em tramas obsessivas que lhe exaurem as forças...

Tudo isso, realmente, podes observar e referir.

Entra, porém, na esfera do próprio entendimento e capacita-te de que te não é possível a imediata penetração no campo das causas.

Ignoramos qual teria sido o nosso comportamento na trilha do companheiro em dificuldade, com a soma dos problemas que lhe pesam no espírito.

Não te permitas, assim, pensar ou agir, diante dele, sem que a fraternidade te comande as definições.

Ainda mesmo no esclarecimento absoluto que, em casos numerosos, reclama austeridade sobre nós mesmos, é possível propiciar o remédio da fraqueza a doentes da alma pelo veículo da compaixão, como se administra piedosamente a cirurgia aos acidentados.

Se conseguimos discernir o bem do mal, é que já conhecemos o mal e o bem, e se o Senhor nos permite identificar as necessidades alheias, é porque, de um modo ou de outro, já podemos auxiliar.

(“Palavras de Vida Eterna” de F C Xavier e Emmanuel)



Pão Nosso, capítulos 85 – “E o adultério?”;



“E, pondo-a no meio, disseram-lhe: – Mestre, esta mulher foi apanhada, no próprio ato, adulterando.” – João, 8:4



O caso da pecadora apresentada pela multidão a Jesus envolve considerações muito significativas, referentemente ao impulso do homem para ver o mal nos semelhante, sem enxergá-lo em si mesmo.
Entre as reflexões que a narrativa sugere, identificamos a do errôneo conceito de adultério unilateral.
Se a infeliz fôra encontrada em pleno delito, onde se recolhera o adúltero que não foi trazido a julgamento pelo cuidado popular? Seria ela a única responsável? se existia uma chaga no organismo coletivo, requisitando intervenção a fim de ser extirpada, em que furna se ocultava aquele que ajudava a fazê-la?
A atitude do Mestre, naquela hora, caracterizou-se por infinita sabedoria e inexcedível amor. Jesus não podia centralizar o peso da culpa na mulher desventurada e, deixando perceber o erro geral, indagou dos que se achavam sem pecado.
O grande e espontâneo silêncio, que então se fez, constituiu resposta mais eloqüente que qualquer declaração verbal.
Ao lado da mulher adúltera permaneciam também os homens pervertidos, que se retiraram envergonhados.
O homem e a mulher surgem no mundo com tarefas específicas que se integram, contudo, num trabalho essencialmente uno, dentro do plano da evolução universal. No capítulo das experiências inferiores, um não cai sem o outro, porque a ambos foi concedido igual ensejo de santificar.
Se as mulheres desviadas da elevada missão que lhes cabe prosseguem sob triste destaque no caminho social, é que os adúlteros continuam ausentes da hora de juízo, tanto quanto no momento da celebre sugestão de Jesus.

(“Pão Nossode F C Xavier e Emmanuel)



Paz e Renovação, capítulo 7 – “Abençoemos sempre”;



Aquele que talvez consideres por inimigo unicamente porque te não pode satisfazer as reclamações será provavelmente uma criatura pressionada por exigências que nunca te abordaram as áreas de ação.

O companheiro que se te afigure viciado, em vista dos lábios infelizes a que se afeiçoa, até que se projetasse na sombra, terá sofrido tribulações para a travessia doa quais é possível não disponhas ainda nem mesmo da metade das forças.

O irmão que alijou a carga de compromisso que lhe competia, em meio da estrada na qual jornadeias, haverá agüentado, no mais íntimo da própria alma, provas e conflitos, que provavelmente até agora não conseguiste imaginar.

O amigo que se te fez menos estimável, à face do desespero a que se entregou, até que isso acontecesse, terá suportado empeços e sacrifícios, que não pudeste perceber, até hoje em momento algum.

A irmã que desistiu que desistiu das obrigações a que se entrosava, até o instante de semelhante deliberação, haverá tolerado angústias das quais é possível jamais tenhas sofrido a mais ligeira mostra do coração.

Abstenhamo-nos de julgar. Nosso ponto de vista, ante os problemas dos outros, na maioria das vezes, pode ser apenas impertinência, descaridade, leviandade, contrição.

Deixa que o amor te enriqueça e te ilumine o espírito de justiça.

Diante daqueles que te pareçam caídos, silencias quando não possas auxiliar. Recorda que todos eles são igualmente nossos irmãos. E já que não sabemos até quando e até onde conseguiremos assegurar a própria resistência, à frente das tentações, saibamos entregar as dificuldades alheias a Bondade de deus, cuja misericórdia cuidará delas, tanto quanto cuida e cuidará também das nossas.

(“Paz e renovação” de F C Xavier e Emmanuel)



Reconforto, capítulo “No ato de julgar”;



Não prescindas do amor que devemos a todas as cousas e a todas as criaturas para que não te falte luz ao entendimento.

Analisando os desequilíbrios do mundo, reflete na Infinita Bondade que assegura a trajetória da Terra, no caminho dos astros, e reconhecerás que toda desarmonia é superficial e aparente.

Observando os conflitos da Humanidade, relaciona os sacrifícios daqueles que te abriram o sulco luminoso do progresso aos próprios passos e, inventariando-lhes as lágrimas anônimas, aperfeiçoarás com teu esforço a estrada para aqueles que te sucederão no futuro.

Apreciando os erros de alguém, medita nos ideais e nas esperanças superiores que decerto lhe povoaram o coração, e compreenderás que outro comportamento talvez lhe assinalasse a jornada, se possuísse oportunidades iguais às tuas.

Diante daqueles que os tribunais humanos classificam à conta de delinqüentes, pensa nas comovedoras aspirações das mães que lhes afagaram o berço e compaixão imensa nascerá de tua alma, ensinando-te a auxiliar ao invés de ferir.

Longo e alcantilado é o trilho da evolução!...

Compadece-te de todos aqueles que voltaram à estaca de inicio, para recomeçar o caminho a pés sangrentos.

No entanto, além da piedade, oferece-lhe braços compreensivos e diligentes, porque amanhã será talvez o teu dia de cansaço e tristeza, desencanto e desilusão, quando reclamarás igualmente o concurso de mãos fraternas a te refazerem as energias ou a te recomporem os membros desconjuntados.

Sobretudo, não condenes, em amaldiçoes, em circunstância alguma, porque o Cristo de Deus ainda não desesperou de nossas fraquezas e hoje, tanto quanto ontem, procura com amor e paciência, libertar-nos a visão da trave do egoísmo e da crueldade, da indiferença e da ignorância, para que com Ele venhamos a cooperar na sustentação da segurança e da paz.

(“Reconforto” de F C Xavier e Emmanuel)



Refúgio, capítulo “Na obra cristã”;



Para que nós, os cristãos, não venhamos a falsear a profecia de que somos portadores, é imprescindível nos atenhamos à Obra de Amor e Luz que nos cabe, na concretização dos princípios do Mestre e Senhor, cuja lição levantamos dos velhos sepulcros da letra em que se nos aprisionava a experiência religiosa.

Disse-nos o Senhor:

-“Não julgueis para que não sejas julgado”.

Isso, decerto, não equivale dizer que é preciso abolir a análise do nosso campo de inteligência, mas, sim que toda condenação é vinagre no pão da fraternidade com que pretendemos nutrir a concórdia entre os homens.

Asseverou, de outra feita:

-“Serás medido com medida idêntica a que aplicares a teu irmão”.

Isso, também, não indica que devermos marchar indiferentes a confrontações e definições, necessárias à elevação de nível do progresso que nos é próprio, mas, sim, que usar as armas da ironia ou da violência, com que somos defrontados no roteiro comum, será o mesmo que atirar o petróleo à fogueira, com o propósito de extinguir o incêndio da crueldade.

Lembremo-nos, na oficina de trabalho a que fomos conduzidos, que somente amando aos inimigos e auxiliando aos que nos perseguem, através do silêncio digno e da oração espontânea, segundo os ensinamentos do Divino Orientador, é que realmente seremos fiéis à Luz Profética, com que somos chamados a construir a nova Mentalidade Cristã para os Tempos Novos.

Conjuguemos emoções e pensamentos, palavras e atitudes, atos e fatos, num só objetivo: A Obra do genuíno Esclarecimento das Almas, com base em nosso próprio testemunho de serviço e de amor, na certeza de que, se a árvore, no quadro da natureza, retira do adubo a seiva fecundante que lhe assegura a frutescência , em plenitude de substância e beleza, também, nós outros, encravados, ainda, em nossas próprias imperfeições, podemos retirar delas os mais santos recursos de aprendizado, aproveitando-os na consecução da tarefa edificante que nos compete realizar atingindo, por fim, a Verdadeira Comunhão com Aquele que é para nós todos, na Terra, a Luz do Caminho, o Alimento da Verdade e o Brilho Incessante da Vida.

(“Refúgio” de F C Xavier e Emmanuel)



Senda para Deus, capítulo “Erros”;



Emmanuel

Se alguém erra no amor,

Nada reproves. Ora.

Necessidade, às vezes,

É o motivo da queda.

Às vezes, natureza;

É a exigência oculta.

Basta à pessoa errada,

O próprio sofrimento.

Não condenes, Não sabes

O que será de ti.

Se alguém erra no amor,

Entrega o assunto a Deus.

Uberaba, 20 de fevereiro de 1995.

("SENDA PARA DEUS" de F C Xavier e ESPÍRITOS DIVERSOS)



Urgência, “Prevenções”;



Não permitas que a prevenção negativa te obscureça o pensamento.

A imaginação intoxicada por idéias infelizes é capaz de gerar enfermidades que, por vezes, raiam na loucura ou na delinqüência.

Habitua-te a refletir com elevação nas razões alheias, tanto quanto agradeces, aos que te rodeiam, a compreensão com que acolhem as tuas, nessa ou naquela circunstância, a fim de que a paz permaneça contigo.

Não mentalizes o mal, quando determinadas atitudes dos outros se te afigurem diferentes.

O amigo que se te afastou da convivência terá problemas graves que ainda não conheces; a irmã que, de momento, não te considerou a palavra, decerto estaria fixando a atenção em assuntos outros que lhe prenderam os ouvidos em provisória surdez; o chefe ou o subalterno que te receberam em serviço com o sobrecenho carregado serão talvez portadores de crises orgânicas ainda imanifestas; e o colega que te tratou com aspereza provavelmente se mostra aturdido por desastres ou provações em família que lhe inibem, por agora, o prazer da cordialidade.

Resguarda a tranqüilidade própria, a fim de que não a percas.

Vigilância é higiene do espírito.

Prevenção negativa, no entanto, é censura antecipada.

Não adquiras pensamentos destrutivos na feira da desconfiança.

Imuniza-te contra o desequilíbrio, mas não te armes contra ninguém.

Conserva o coração no clima da paz e da alegria e reconhecerás que é possível viver tranqüilamente, desde que deixemos aos outros a iniciativa de assumirem as próprias experiências e igualmente viver.

(“Urgência” de F C Xavier e Emmanuel)



A Vida Escreve, capítulo 1 – “Dever cristão”;



Rossi e Alves eram diretores de conhecido templo espírita e davam-se muito bem na vida particular. Afinidade profunda. Amizade recíproca. Sempre juntos nas boas obras, integravam-se perfeitamente no programa do bem.

Alves, com desapontamento, passou a saber que Rossi, nas três noites da semana sem atividades doutrinárias, era visto penetrando a porta de uma casa evidentemente suspeita, lugar tristemente adornado para encontros clandestinos de casais transviados.

Persistindo semelhante situação por mais de um mês, Alves, certa noite, informado de que o amigo entrara na casa referida, veio esperá-lo à saída.

Dez, onze, meia-noite...

Alguns minutos depois de zero hora, Rossi saiu calmo e o amigo abordou-º

- Meu caro – advertiu Alves, sisudo _, não posso vê-lo reiteradamente neste lugar. Você é casado, pai de família e, além de tudo, carrega nos ombros a responsabilidade de mentor em nossa Casa. Nada podemos condenar, mas você não ignora que álcool e entorpecentes, aí dentro, andam em bica...

Rossi coçou a cabeça num gesto característico e observou:

- Não há nada. Estou apenas cumprindo um dever cristão.

- Dever cristão?

- Sim, a filha de um dos meus melhores amigos está freqüentando este circulo. Jovem inexperiente. Ave desprevenida em furna de lobos. Enganada por lamentável explorador de meninas, acreditou nele... Mas a batalha está quase ganha. Convidei-a a pensar. Há mais de um mês prossegue a luta. Hoje, porém, viu com os próprios olhos o logro de que é vítima. Acredito que amanhã surgirá renovada...

E ante os olhos desconfiados do amigo:

- Você sabe. É preciso agir, sem rumor, sem escândalo. Quem sabe? Talvez em futuro próximo a invigilante pequena possa encontrar companheiro digno. E ser mãe respeitada.

Alves riu-se às pampas, de maneira escarninha, e falou:

- Vou ver se é verdade.

- Não, não! Não vá! – pediu Rossi, em suplica ansiosa.

- Tem medo de ser apanhado em mentira? – disse Alves, com a suspeita no rosto.

E sem mais nem menos entrou casa adentro encontrando, num pequeno salão, sua própria filha chorando ao pé de um cavalheiro desconhecido...

(“A Vida Escreve” de F C Xavier, W Vieira e Hilário Silva)



Vinha de Luz, capítulo 154 – “Por que desdenhas?”;



“Examinai tudo. Retende o bem." - Paulo. (I TESSALONICENSES, 5:21.)



O cristão não deve perder o bom ânimo por mais inquietantes se apresentem as perplexidades do caminho.

Não somente no que diz respeito à dor, mas também no que se reporta a costumes, acontecimentos, mudanças, perturbações...

Há companheiros excessivamente preocupados com a extensão dos erros alheios, sem se precatarem contra as próprias faltas.

Assinalam casas suspeitas, fogem ao movimento social, malsinam fatos ou reprovam pessoas, antes de qualquer exame sério das situações.

E nesse complexo emocional que os distancia da realidade, dilatam desentendimentos com pretensas atitudes de salvadores improvisados, que apenas acentuam a esterilidade do fanatismo.

Longe de prestarem benefícios reais, constituem material neutralizante do movimento renovador.

O Evangelho do Cristo, contudo, não instituiu cubículos de isolamento; procura estabelecer, aliás, fontes de Vida Abundante, em toda parte.

Examinar com imparcialidade é buscar esclarecimento.

Por que a condenação apressada ou a crítica destrutiva? Quando Paulo dirigiu a célebre recomendação aos tessalonicenses não se reportava apenas a livros e ciências da Terra.

Referia-se a tudo, incluindo os próprios impulsos da opinião popular, com alusão aos fenômenos máximos e mínimos do caminho vulgar.

Em todas as ocorrências dos povos e das personalidades, em todos os fatos e realizações humanas, o aprendiz fiel da Boa Nova deve analisar tudo e reter o bem.

Por que te afastares do trabalho e da luta em comum? Por que desencorajar os que cooperam na lide purificadora com o teu impensado desdém? Se te sentes unido ao Cristo, lembra-te de que o Senhor a ninguém abandona, nem mesmo os seres aparentemente venenosos do chão.

(“Vinha de Luz” de F C Xavier e Emmanuel)